A cigarra e a árvore
O fim-de-semana inteiro e a cigarra trouxe-me o Algarve à janela, despertando o interesse e um certo aborrecimento, pelas longas horas de vazio, calor e obrigações sem fim. Da janela, vejo a árvore grande, onde a cigarra se esconde e continuo sem perceber se é uma mimosa. Penso para mim como está crescida e como são grandes as vagens que pendem junto às folhas. E como contrasta, juntamente com as palmeiras e oliveiras da quinta do Lumiar, com a colina de casas aglomeradas ao fundo, que mais parece a Rocinha. Começou a semana e esta mesma árvore soltou um enorme galho que caiu sobre os carros estacionados, numa aparente fadiga de si mesma. Jurei que nunca mais me queixaria da cigarra! Um dia depois noticiava-se uma tragédia com uma árvore e ao terceiro dia em que removem os restos da minha árvore a terra treme, ajustando contas consigo mesma. Pelo meio, passaram os dias, avessos às cigarras, às árvores e aos tremores da vida.