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A mostrar mensagens de setembro, 2015

Os mergulhões

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Ela vai ali concentrada na leitura. E eu pergunto-me como podem ser tão bonitas estas Polacas e sempre tão bem maquilhadas! O livro de capa rígida e vermelha tem uma etiqueta na contracapa com um código e, por isso, tudo indica que seja um livro de biblioteca. Faz muito tempo que não requisito livros em bibliotecas. Às vezes distraía-me quando encontrava um rabisco ou uma anotação que alguém mais desinteressado fizera. Eu rabiscos nunca fiz mas, talvez uma migalha ou outra se tenha perdido entre as folhas. Mas, em nenhuma biblioteca hei-de sentir essa mística da biblioteca itinerante que estacionava na "Rua da Estrada" à espera dos poucos que, periodicamente, íamos devolver e requisitar livros. Foram aventuras o que mais li e penso que os livros dos Cinco, da Enid Blyton. E a única coisa que me recordo desses livros e até hoje ainda não percebi porquê é o episódio dos mergulhões. Eu não sabia o que eram mergulhões mas para mim essa história era nas Berlengas e os bichos

O cesto da fruta

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São 21:30 e o meu dia foi abrir e fechar um castelo. E agora, já rendida ao hotel, podia escrever sobre a beleza desse gigante em tijolo que arrasa os fins de tarde em tons bucólicos, enquanto bandos de aves repousam nas águas do Nogat. Mas não. Apetece-me falar sobre o cesto da fruta que ia naquela bicicleta, no parque verde, bem perto da marina. O passeio até lá divide-se entre o dourado do pôr do sol que trespassa as árvores e as primeiras folhas caídas, de tons castanhos. A meia dúzia de barcos ancorados evoca nostalgia mas, daquele pontão, o horizonte é esperança, é paz, é a serenidade semelhante à do pescador que no seu vagar vai lançando a linha enquanto o dia acaba ali mesmo. Entretanto já fui espreitar a tenda de onde se projecta a música do que suponho ser um casamento. E depois, eles passam. Bicicletas de passeio, ela fala efusivamente e ele sorri para ela. Na bicicleta dele, um cesto de vime carregado de maçãs e às costas umas raquetes de ténis. Talvez vá ali uma ta

Jantar

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A estação é um edifício lindo e cuidado nos seus tons de tijolo castanho. No caminho até ao hotel passei por duas bombas de gasolina e um MacDonalds. Fui tentando adivinhar onde se ergue o castelo que me trouxe até aqui e por onde serão as margens do rio Nogat. Mas de ambos nem sinal e a prioridade foi encontrar o hotel onde devo ser a única hóspede, mais o bisonte que ressona no quarto de cima. É preciso pontaria e capacidade de abstração, que isto é coisa para me tirar o sono! Foi assim, a chegada a Malbork depois da viagem no comboio que se atrasou,  com paragem em Tczew e mais um regional até aqui. No caminho pensei no jantar. Não no que iria comer mas no que me apareceu no mapa enquanto ia controlando as distâncias e o tempo. Jantar à beira mar não estaria nada mal mas sobrou a pizzaria da esquina enquanto penso no que poderei fazer durante dois dias numa terra que é um castelo!

À noite...

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Todos os homens polacos são pardos! Perdão, parvos! Ou bestas! Ou então estarei a exagerar porque segundo o meu colega de trabalho aquilo que aconteceu esta quarta-feira à noite foi, afinal, uma palmada de motivação. Um dos meus lugares favoritos na cidade é o lago ao pé da minha casa. À sua volta, vi as cores de Outono quando aqui chequei. Observei vezes sem conta as aves pousadas em bandos, num gralhar que interrompe o silêncio de qualquer fim de tarde. Vi o Inverno chegar e o gelar das águas empurrando as aves para o centro até que partiram para outras rotas. Descobri o bosque à volta deste círculo de água e o zoo que é vizinho da linha de comboio a carvão, que parte dos jadins vizinhos ao lago. Quase todas as vezes fi-lo a correr ou a caminhar. Outras tantas vezes sentei- me a ler e a observar os banhistas corajosos de verão ou provei um dos melhores Siernikis da cidade, no café a meio do caminho. Assisti a provas de remo e um dia aventurei-me a descer o monte junto à pis

Do quanto eu gosto de Pretzel

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O glamour da chegada. Pessoas de diferentes nacionalidades que chegam de táxi em frente ao edifício geométrico dourado. Há, em cada uma das duas portas, cestos forrados com paninhos vermelhos e com pretzel. Ainda me ocorreu meter dois à mochila para roer durante o concerto mas, hesitei, até porque para violino, eu espero um concerto leve e com dinâmicas sem fugir ao piano . Já dentro, bebe-se champanhe e eu pergunto-me quanto custará um flute sabendo o preço de um café em Berlim. Procuro qual a porta de entrada para a sala que em poucos minutos me devolveria uma figura diferente das salas de espectáculos onde já entrei. E que inveja não estar nos lugares que ficam virados para o maestro. Talvez ali pudesse sentir mais a vida que existe para além de toda aquela perfeição de som com que fomos brindados. E naquele violinista, de pé, não houve aquele esmagar do violino no pescoço como se, quanto maior a marca, melhor o resultado. Havia, sim, leveza e elevar o pianíssimo ao extremo de

Boneco(s)

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Eu já devo ter falado da sinalética das ciclovias. Ou então, já me indignei com o comportamento de algumas pessoas que frequentam as ciclovias. De todas as maneiras, nunca pensei que fosse um problema global. Aqueles que gritam, berram, dizem disparates sobre onde devemos correr ou caminhar. Se pela esquerda, direita ou no centro. Não há paciência para os que o fazem mas também já não se percebe o porquê de pintar os bonequinhos desta maneira. Ora, eu começo a correr por um lado onde tem "boneco" de pessoas, a meio do percurso tem "bonecos" de bicicletas em dois sentidos e eu aí suponho que os peões apanhem boleia dos ciclistas e, mais adiante, tem "boneco" de pessoas com um traço vermelho na diagonal. Aqui, depreendo que me atire para a sebe de modo a desaparecer da via. Eu tenho a tese que eles se cansam de pintar os bonecos e depois colocam o que lhes apetece. Mas deve haver uma explicação mais profunda. Menos para a gente stressada que gostaria de

Sushi ou leitão

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Primeiro vieram os restaurantes chineses onde toda a gente ia até que se descobriram os segredos das cozinhas e foi vê-los fechar. Eu fui a um único, em Aveiro, e quase arrastada. Sou de alheiras, bacalhau de cebolada, pataniscas com arroz de tomate, peixe grelhado, marisco, carne assada na brasa e essas coisas. Mas gosto muito de tapas e de comida mexicana. E há um restaurante Indiano em Lisboa, perto do bairro, que foi uma boa surpresa. E um Libanês também. Depois veio o Sushi. A moda do Sushi. E para muitos virou relegião e havia que ir todos os dias, não fossem as algas acabar. E para mim a ideia do peixe cru agoniava-me. Ainda agonia. E nos meus últimos dias por Lisboa, provei, a par da alheira que comi nesse dia, um bocadinho de sushi, ou como quem diz, daqueles rolinhos de arroz sem peixe cru, num dos lugares mais inesperados de sempre. Num restaurante de chineses, tasca de esquina, para lá de barato e com a ementa mais variada de todos os restaurantes que vai desde a

#29/08/2015 Momentos

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Foram três momentos que marcaram o dia. Não foi o reencontro das cores lindas de todas as casas que rodeiam a Rynec porque as suas fachadas serão sempre belas, na luz da manhã ou no lusco-fusco. Foi ele a cantar. Ali, naquela praça, dois sonhadores, uma na voz e outro na guitarra são aquilo que (quase) nunca somos – o que mais gostamos de fazer, à vista de todos. Doar talento. Mesmo quando caem as moedas no saco da guitarra, essas são voluntárias. Depois, foi ele a desenhar. Perfeição e concentração num desenho de um rosto de uma mulher. Ele ali sentado, com pernas à chinês, o seu corpo dobrado numa posição quase acrobática porque não ter mãos assim o ditava. Mas era leveza de traço o que víamos a passar para o papel. E o seu sorriso! Como ficar indiferente? Por fim, o olhar curioso e profundo daquela miúda ao colo da mulher de cabelos grisalhos que em algum momento cruzou o seu olhar no meu. Uma praça com pessoas, gestos e vidas que são momentos.

O Americano

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Eu estava a jantar na Trattoria Va Bene bem   no centro da praça quando reparei nos flashes das fotografias no topo da torre da igreja de Sta. Maria Madalena. E que vista eles estariam a ter!! O sol a pôr-se, pintando o céu naquelas cores que lembram sempre prolongamento do verão. E estava aquele bafo quente,  das noites quentes dos verões a sério, com grilos à solta. Ali, no meio do reboliço, não haveria de encontrar os grilos mas fui esticando as horas na esplanada já com o plano de, no dia seguinte, subir à torre para fotografar a cidade daquele ponto. A ponte dos Penitentes, é assim chamada, e liga duas torres no topo da Igreja. E subir foi uma penitência porque a partir do lance de escadas metálicas o meu corpo descontrolou-se e não fui mais capaz de pôr ordem aos nervos, tremeliques de pernas, suor nas mãos e pavor. Tudo isto sem nunca deixar de subir devagarinho, evitando olhar para as escadas e medir o quanto longe do chão eu já estava. E era o medo de deixar cair o telemóve

Fronteiras

Há mulheres, homens e crianças em busca de paz. Há crianças para quem começaram os primeiros dias de creche e infantário. Há pais ansiosos e saudosos nestes momentos e há outros que perderam ou abandonaram os seus filhos. Há crianças a morrer de fome, afogadas, outras desamparadas sem direitos, sem educação, sem réstea de esperança nos países onde vivem ou em qualquer outro para onde fujam. Somos esmagados diariamente por informação de uma Europa que falha, por um mundo centrado em questões económicas e tudo o que possa ser feito parece não chegar para tanta desgraça, sofrimento e carência. Agora, ler algumas parvoíces daquilo que fazer para cada país ajudar é perceber o porquê de estarmos tão longe de saber construir o que se quer: humanidade. E esta mesma sociedade que agora está chocada com a falta de apoio humanitário e as condições com que pessoas tentam galgar fronteiras será a mesma que se indignará e condenará outras problemáticas sociais com os mesmos intervenientes.

Bem-vindo!

Inverno. Sim, porque verdade, verdadinha hoje vi uma pessoa de gorro. E de regresso a casa apeteceram-me grissinis com Nutella e destes apetites só há memória em dias de lareira que infelizmente não tenho, mas penso nela todos os invernos. Já estou de consciência pesada, barriga cheia e o álibi é perfeito: o Inverno. Sejas bem-vindo! E passemos já o Outono.

Incondicional

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Podia ser amor, amizade, alegria, tristeza, medo ou rebeldia. Sem regras, sem medidas, sem limites, nem traços que fechem a geometria do que sentimos, do que vivemos, daquilo que precede esta palavra. Ou que venha depois. E que medida será a das emoções, dos sentimentos, para ti, para mim, para cada pessoa? Não é o incondicional que me importa. É o que está antes ou depois. Um abraço, um desejo, um elogio, o esvaziar de cada palavra que ali coloques e que dela sorvas o limite do que for a tua condição, ou de outro alguém. Incondicional é não limitar, mesmo quando sabemos que as palavras são livres, tanto ou mais do que delas sabemos. Ou queremos que elas sejam.