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A mostrar mensagens de fevereiro, 2015

Voglio dirti

Chovia e estava muito nevoeiro e por isso não consegui ver todo o percurso que tantas vezes fazíamos junto ao Rio Douro. E de sobressalto as memórias, as perguntas, a inquietude...num braço de ferro que se perpetua.

O carteiro

E o rasgo na memória. Foi ali no meio daquele silêncio que incomoda, que mói, no silêncio do velório que faz da nossa memória uma cassete que puxa à frente e atrás tudo o que conseguimos resgatar dos que morrem e dos que ficam. Aquele homem alto, de olhos verdes e cabelos grisalhos, trouxe toda uma infância em que sempre que ouvia a motorizada pelo caminho fora e o alarido dos cães, eu gritava: " É o carteiro!". E ele sempre com ar muito paciente falava com o meu avô e este colocava o dedo no pequeno estojo de tinta e esborrachava-o no pequeno círculo desenhado no papel. E a sua chegada representava sempre, acima de tudo, surpresa. Porque nunca sabíamos o que trazia, ou, de certo modo, sabíamos sempre. E depois de todos estes anos, em que já não entrega cartas, nem percorre os caminhos com a sua motorizada eu descubro que esta não era a sua terra e aqui viveu toda uma vida, por dedicação a uma profissão. Ou melhor, esta é a sua terra porque quem vela pelos mortos e pelos

Hoje

Faltava apenas uma semana. Até que noutro adeus não tivesses mais vergonha de esconder as lágrimas, o lamento em fôlegos. Nunca o demonstraste antes, e não o tivesse eu visto porque seria sinónimo de que, da tua distância, não haveria nem sequer sinais da doença. Não te vergaste a ela e só por isso resististe mais de quatro anos numa moinha que teria sido fatal para tantos outros. Não me importam as ciências, os avanços se depois num simples diagnóstico se ditem sentenças. E se para uns valem as auras positivas, a alegria de viver, para outros mais do que isso não basta porque não há máteria que resista. Fomos erros, discussões, palavras ditas e omissas, mas também revelação. Mas soubeste, de forma serena, valorizar o sorriso dos netos e de quem nunca te largou da mão. E sim, tinhas um humor fantástico e acho que isso herdamos de ti, pai!

O dia a seguir

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Ainda assim as coisas perfeitas aborrecem-me.

Neve

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Aquele "restolhar" das botas na neve que me causa arrepios. Mais do que os do frio. Engolir flocos de neve só porque sim. Seguir pegadas como se estivesse a fazê-lo na areia quente da praia de verão. É voar até aos seis anos quando vi neve (real)pela primeira vez.