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A mostrar mensagens de janeiro, 2018

Para o ano

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Passou um ano e eu voltei a não ir à capela de S. Gonçalinho mas as cavacas vieram até Lisboa. Não estou certa que qualquer rogo ao santo produzirá o seu efeito a esta distância mas, nesta ida aos Correios lembrei-me destes dias ter visto o Robles a falar sobre o assunto, em directo da Rua da Palma a propósito do encerramento de mais um ponto dos CTT, sem aviso. Na altura não lhe prestei atenção, até porque os seus olhos verdes não me deixaram mas pensando no assunto, o conceito de proximidade é muito relativo. Para chegar antes do encerramento do balcão de residência tive de me deslocar de carro e, por isso,  sair do trabalho em horário que nem aqueles que fazem 35 h por semana conseguem. Depois demorei-me 30 minutos à procura de um estacionamento não pago (que não consegui), estacionei em segunda fila de modo a conseguir alguma animação sonora no bairro e por fim, tenho de sobrepôr um "boa tarde" à questão em tom de raspanete "ainda não assinou o aviso?". P

A vida dele, talvez

Ele olhava para o telemóvel como quase toda a gente que seguia no metro. Se o mundo acabasse naquele momento eu não conseguiria cruzar um olhar com ninguém. Tinha cabelos compridos desordenados, barba não muito aparada, vestia calças rasgadas, um casaco verde tropa e tinha ar de artista. Com ele, uma pequena caixa gasta. Perguntei-me em que rua teria estado a tocar, quem foram as pessoas que lhe deixaram uma moeda, quanto teria ganho durante o dia, onde viveria, onde iria estar no dia seguinte e no outro e quais as músicas que gostava de tocar. Onde teria estudado música (se o fez) e quais seriam os seus sonhos. Pensei que, se saísse na mesma estação, talvez o pudesse ajudar a levar os amplificadores. E então levantou-se, a pequena garrafa de água caiu, eu hesitei para a agarrar, olhou-me e sorriu. Um sorriso luminoso. Com muita calma segurou todas as tralhas e saiu. Ficou por perguntar se era de um violino, aquela caixa. A vida dele, talvez.

O frio (nos museus também)

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Eu não me queixo do frio porque é uma coisa natural. É certo que se viessem os - 39 graus da costa leste Americana morreríamos todos e o facebook fechava com a quantidade de fotos de termómetros que íamos partilhar. Eu queixo-me do que temos de pagar para manter as casas quentes e compreendo perfeitamente a EDP quando se recusa a pagar a taxa extraordinária de energia ao Estado. Aquilo é uma pipa de massa, tal como a última factura da luz que recebi depois de ter ligado o meu querido Becken.  Ele nem teve tempo de dar todos aqueles estalinhos próprios de um aquecedor a óleo. O meu peso na consciência era tal que o desliguei dez minutos depois. O suficiente para que os dígitos rodassem naquela factura acompanhada de uma carta simpática com a informação de que os preços vão ser actualizados. Eu nunca vou entender aquelas facturas, nem mesmo se tirar um doutoramente em física quântica. Se há pessoas que não compreendem os seus recibos de vencimento pela complexidade de rúbricas e

Ao terceiro dia que, afinal, é o sexto

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Os dias já a desfilarem o desassossego, aquele desânimo de saber que ao terceiro dia afinal continuo a querer comer todas as sobras das festas, o regresso às rotinas e a essa essência tão pura de que não faço aquilo que gostaria. Todos os anos a história se repete. As nossas vidas mudam sim mas eu estou sempre à espera que seja algo grandioso, repentino como uma tempestade. Em grande e profundo, portanto. E às vezes as pequenas coisas podem ser as mais surpreendentes. E de tão pequenas que nem as vemos.  Escrevo isto enrolada num cobertor no sofá e esse pode ser um bom começo. E uma dessas pequenas coisas. A casa está gelada, o aquecedor no quarto e eu dou graças por não existir uma TV, caso contrário eu iria afundar-me no sofá e sairía no Verão, quando o sol e o calor inundarem este sexto andar. Em cima da mesa jaz o pequeno livro de colorir com a caixa dos lápis de cor. Ainda não saí da primeira página, tudo o que pintei está muito bonito, sem passar das linhas mas temo