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A mostrar mensagens de novembro, 2020

[ dores ]

  Caem como folhas secas de Outono, como perfeitos despojos dos males que protegem. Vejo-as em toda a parte, cor de céu. E será que os pombos alinhados nos fios olham para elas também?  Tento ignorar a dor no meu ombro,  tento sentir-me leve como se fosse descalça na pista tartan. Toca "silent night" e isso tira-me ritmo, mas ao Silveira não. Quem é o Silveira?  Não sei, mas acaba de passar com um dorsal ao peito, com o seu nome.  Aquela luz no rio e aposto que é isso que aquele homem sozinho está a admirar, sentado naquele banco. Que presunção esta, de adivinhar. E as dores, e o peso da noite mal dormida.  Dizem que o deus que morreu esta semana também tinha insónias.  Não sei se lhe doíam as insónias, mas a mim doem mais do que se eu fosse descalça nesta pista tartan.

[ Mulheres ]

"Mulheres ácidas" era o nome da peça. Tão únicas e tão múltiplas,  imaginei eu.  Ácidas de sagazes, irónicas, mordazes, às vezes seguras de si, olhar riscado de negro, mãos nas ancas, um salto alto por partir.  Mulheres ácidas, com medo do que há por vir. De pés descalços,  voz trémula, olhos inchados de chorar e mau dormir.  Mulheres ácidas, dóceis, de palavras meigas ao ouvido, até que dois perdem os sentidos. Mulheres ácidas, com nódoas negras, e medo e rebelião.   Mulheres ácidas, bonitas, feias, gordas ou magras.  Peito firme ou assim como o PR quando se vai vacinar e aparece na televisão... Mulheres seguras, inseguras, tímidas, descontráidas, formais ou demasiadamente desprendidas.  Mulheres poema, canção, mulheres que saem de livros, mulheres porno, mulheres de garra ou aquelas que não sabem dizer não. Mulheres ácidas, com humor, chatas, tristes, melancólicas, aborrecidas ou muito sofridas. Mulheres ácidas, a descer a avenida, gritinhos de pitas ou olhar por cima do o