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A mostrar mensagens de janeiro, 2016

Hoje fui roubada

No hipermercado! Roubada por uma itequeta identificadora de uma caixa de maçãs. Desde que me lembro as maçãs "porta da loja" eram assim chamadas porque eram do meu quintal e porque estavam naquele intermédio entre a ameixoeira branca e a pereira onde se atava a rede para o descanso. Nunca eu pensei que fosse essa a "marca" ou origem das maçãs e por isso foi fácil ter ficado ali especada a olhar para algo que eu pensava que não era universal: as portas da loja.

Havemos

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Havemos de subir a avenida, sem mãos na cintura, nem saias garridas e sem termos o regaço de oiro, mas olhando as esplanadas e as casas das recordações com o mesmo sorriso dessas minhotas engalanadas. Havemos de subir ao santuário e louvar a Santa Luzia, por sinal, advogada das vistas, por ver dali o quão bonito é o rio Lima a chegar ao mar, o Cabedelo dos surfistas e poder comparar numa dessas fotografias a preto e branco, o quanto o mar comeu à terra nestes anos, desde Castelo do Neiva até onde perdemos a vista. Havemos de parar no Natário para lambuzar os dedos com açúcar e canela das Bolas que não vêm de Berlim mas estão ali junto aos biscoitos de Viana e com uma fila à porta. Havemos de ir à Praia do Norte, e esperar por marés que enchem e esvaziam as piscinas do mar. Havemos de sentar-nos na Praça da República e ali trazer à memória o furor de um grupo de bombos, de outras tantas concertinas, cantigas à desgarrada e um balancear de gigantones em dias de romaria. Havemos

De branco nos pés

Sempre que me proponho a desafiar o corpo numa corrida lembro-me da história das sapatilhas Ritex . Eu corria e participava em provas de desporto escolar, até que a música me deu a volta à cabeça e foram-se as pistas e os campos de lama. Eram elas, as gémeas de Aldreu (ou seriam de Fragoso?), que ganhavam o 1º e o 2º lugar dos corta-mato da escola. Eu ficava com o 3º lugar. Raramente os outros, mas esforçava-me muito e sempre gostei das aulas de educação física. Eu não tinha roupa desportiva ou de marcas e guardo para sempre a vergonha que foi uma prova distrital em que equipas inteiras apareceram em licras a condizer. A nossa equipa era uma mistura de calções de licra desbotados e uma tshirt fosse ela do que fosse. Mas corríamos como se não houvesse amanhã.  Eu tinha uns ténis muito velhos, rotos, com bonecada em cores desbotadas, que já deixavam entrar água e tinham sido comprados na feira. Mas eram muito confortáveis. Até que, numas idas ao pronto a vestir da Tia Engrácia,

Eléctrico ou funicular?

Não sei se era um eléctrico ou um funicular. A gare era enorme, em tons de castanho iguais a algumas fachadas de casas que vi na Polónia. Perguntei pelos horários e depois entrei numa espécie de átrio com enormes janelas e estava sol. Mas o local dos bilhetes contrastava com tudo isto. Eram cabines modernas mas cobertas de pó e teias de aranha e lembro-me, já fora, de sentir um certo alívio porque sabia que não tardaria e entrava na carruagem. Não poderia ser um funicular, não me lembro de elevação suficiente, a não ser quando desci umas escadas muito estreitas em fila indiana com pessoas que nunca vi na vida. Há sonhos estranhos mas hoje andei toda a noite a passear e não sei se foi de eléctrico ou funicular.

Óbidos

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A muralha abraça as casas brancas, caiadas com rebordos de azul e, às vezes com bougainvilleas, a trepar ou a descer junto das janelas e portas pitorescas.  Multiplicam-se as lojas com lembranças que retratam em sabores, ou na cerâmica, a vila, a vizinha Lisboa e os arredores que são, no fim de contas, Portugal. As igrejas e as mercearias estão agora forradas a livros e ficaríamos ali horas a desvendar segredos, tantos quantos guardam as pedras da calçada das ruelas que fazem da Vila um labirinto. O Senhor Jesus da Pedra está ao fundo, envergando a tristeza do dia chuvoso e de quem fica sempre do lado de fora da muralha.