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Sobre o 30.12.2014

Estava naquela abóbada de luz do aeroporto de Lisboa, junto às lojas e aos cafés. Abri o livro "Não se encontra o que se procura", do MST e aquele parágrafo fez-me sentido. Horas antes, uma despedida de encurtar os minutos e de abrir um fosso de dúvidas. Li aquele parágrafo e lembrei-me de "Quero é viver" do Variações, mas na voz do Camané. Voei para Berlim, onde uma noite fria com neve me esperava. Arrastei a mala pesada vários quarteirões e pedi ajuda à polícia. Cheguei ao hostel, dormi num quarto lotado de gente que nem cheguei a ver. Na manhã seguinte a água do banho era tão fria que talvez aí tenha dito que não dormiria mais num hostel.   Não veio a A. mas vieram os outros e mudamo-nos para o hotel familiar junto do Parque. Nos desejos do 31 todos quisemos tanta coisa, uns procuraram, outros simplesmente entregaram-se ao que estava por vir. Passaram quatro anos, desde aí eu voltei a dormir num hostel, escrevo com mais certezas projecções em vez de proje

Aquele lugar

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Plaza Mayor >> Salamanca 27.12.2018 Esvaziei as memórias. Desde a Plaza Mayor até às catedrais. Lembro-me do amanhecer daquele dia, e talvez não pudéssemos reparar na beleza dos edifícios, dos detalhes da arquitectura que agora vejo. Ainda nos rompia a música do clube que fecháramos.   Mas... onde terá sido afinal o concerto do final de tarde, nesse lugar espartano onde os pombos entravam, até que soou o fado de Coimbra? Hoje, não o reconheci em nenhum dos lugares que fui. Ocupou-me o silêncio dos kms que fiz até aqui. E voltará, incógnito, para assim ficar para sempre.

Ainda há salvação. Nos elevadores.

São raras as vezes que me cruzo com vizinhos no elevador mas, quando acontece, é quase sempre como em todos os elevadores. Já vamos a descer ou a subir, o elevador pára noutro andar e, de súbito, as pessoas parece que vêem a peste negra. Nesse momento, sorrio e rodo a cabeça na direcção do espelho, para ver qual o grau de gravidade da coisa. Estão de fora desta reacção as crianças. Principalmente as de colo, como a menina dos caracóis loiros que hoje, sorriu de imediato e tentou chegar a sua mãozinha minúscula ao meu cabelo.  Disse-lhe "bom dia". A ela. Porque o pai, antes mesmo de entrar, fez aquele olhar-de-má-sorte-por-ir-gente-no-elevador.  E perguntei à menina se ia para o frio. E ela, no seu sorriso doce, foi como se tivesse respondido. Livrando-nos desse mal que são os elevadores partilhados. 

Para Altea, com amor

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Eles estão em directo de Altea e começam a entrar em palco.  Deste lado, estou via computador, e mesmo assim não desligo daquele nervoso que se agiganta quando a batuta fica uns segundos suspensa. E se alguém falha uma nota, uma entrada na música, um solo?  Foi assim durante anos.  Mesmo quando estávamos em recintos barulhentos, com pessoas que apenas aplaudiam no final e, na verdade, não ouviam nada do concerto, em palcos onde não cabíamos todos, ou em coretos que desabavam, em festas, romarias, procissões com foguetes a estalar, em lugares conhecidos ou em terras esquecidas de um Portugal profundo.  Será assim para sempre se as gerações do presente e as vindouras viverem, em algum momento das suas vidas, o amor à música e ao associativismo. Nunca, em alguma dessas ocasiões que envergámos uma farda e levámos o nome da nossa terra Verão fora, nos faltou a honra e o sentido de responsabilidade. Quero acreditar. Que é, no fim de contas, o que significa ter uma ponta de nervoso

O que parece ser

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Cruz Quebrada // 01.12.2018 Em contraluz, com mais fios e com mais pombos seria uma pauta. Assim, é apenas a capa de um disco.