Dois anos e a gravura de Praga
Há dois anos, saía de uma casa "emprestada" e cometia, pelo menos, três infracções até ao Saldanha. Do centro de Lisboa até ao trabalho devo ter pensado quanto tempo seria o "provisório", quanto tempo demoraria a arranjar casa em Lisboa, quanto tempo para mudar as minhas duas malas com as poucas coisas que tenho e quando penduraria a gravura de Praga numa parede. É, talvez, o único objecto que referencia o lugar onde, porta fechada, eu não sinto desamparo. Não o sei explicar , nem preciso, tão pouco. E, ainda assim, agora que olho para a gravura ali na parede verde limão eu não sei se o provisório já deixou de o ser. Nunca trouxe os livros e os poucos discos e, às vezes, temo nunca resolver esse caos dos caixotes que ficaram para trás. Há dois anos que tenho uma gravura de Praga, numa parede de Lisboa a pensar num outro lugar que ainda não sei se existe.