#mãedeus
A manhã cresce quente como as meias de leite que se servem nas esplanadas. A rua é um reboliço, babilónia sem um único bom dia ou um foda-se. Não sei em que país estou, mas é suja a rua e a minha fobia de caminhar em passeios sob varandas aumenta à medida que caem mais pingos não sei do quê. Tudo é uma grande mixórdia. De gente, de cheiros e de ruídos. A calçada está suja, há lixo, pombos atordoados, cheira a mijo. Não há nada mais universal que o cheiro a mijo encardido. Os T0 em tendas nas soleiras dos prédios não têm cartazes remax. Velhos, novos, drogados e gente limpa que sorri para as mortalhas. Estou numa passadeira, o sol queima e ela diz-me bom dia com a graça de uma canção de Tom Jobim. Estão a fazer um estudo sobre Mãe-Deus, pergunta-me se conheço e eu digo-lhe que tudo que sei sobre Deus cabe no papel de mãe. Agradeço e sigo ainda com sinal vermelho.