Já passaram três semanas. Parece-me que conto os dias, à espera que algo aconteça. Embora isto seja às portas de Lisboa tenho a sorte de trabalhar num paraíso vestido de verde, rasgado pelos palacetes românticos, apelando à viajem para tempos idos, dos vestidos com cauda, das tendências idealistas e poéticas. Nem tudo é mau. Não gosto do modo de falar daqui, nunca chamarei bica ao café, nem imperial ao fino, os pastéis de Belém não são nada de especial, assustam-me os centros comerciais, fazem-se compras aos encontrões, as pessoas andam a mil no trânsito, fala-se das cotações da bolsa e da economia. Tem-se a sorte de não viver num desses centros de massa humana, na vertical, de prédios desordenados e andares até se perder a vista. A casa vai sendo o único sítio onde vou deixando o medo que trouxe desde o primeiro dia. Porque aqui estou comigo e a solidão reveste-se de boas memórias, de sonhos, de imagens bonitas.