Memórias do Sr. Joaquim
Passaram doze ou treze anos. Eu vivia numa casa húmida, não tinha vizinhos de prédio, com umas escadas que me faziam desistir de carregar qualquer coisa, onde nem o bonsai se habituara, acabando por despir todas as suas pequenas folhas, tendo sido já tarde demais para o salvar, quando dali decidi sair. Em Maio, por altura das peregrinações a Fátima, o senhorio abria o espaço inferior do prédio, que nunca terá cumprido as suas funções de espaço comercial, e recebia peregrinos. Pela proximidade da N1, em várias semanas muitos eram os que se deitavam em sacos-cama ou colchões improvisados e descansavam, ligavam às famílias, curavam as feridas, embora muitas delas nunca tenham parado de sangrar. Por esses dias, e enquanto ajudava as pessoas a acomodarem-se, apareceu o Sr. Joaquim, mais de sessenta anos feitos, fanfarrão nas suas primeiras palavras, o corpo em mazelas visíveis e tudo o resto um misto de comédia e tragédia. Quando o ajudei a sentar-se e a tirar os ténis e ele fez-...