Dor de dentes, ou da história...

Eu já suava das mãos.
Primeiro o taxista engana-se e vai para uma rua de onde o número vinte e cinco nem sinal, depois, à chegada ao destino correcto vejo-me a entrar para umas traseiras tipo quintal e eu já nem sequer me queria imaginar estendida na cadeira do dentista.
E em todo este processo eu já afirmava para mim mesma que ficar com o dente partido e assumir o problema de fragilidade da boca seria melhor do que tentar explicar todo o histórico e não ser compreendida e sair do consultório ainda com menos dentes dos que tenho.
E quando bato à porta e vem o médico (assistentes de dentistas? Isso são modernices) e aparentemente não se recorda da marcação, eu senti que tinha tudo para correr bem nesta estreia dentária por terras nortenhas.
Finda a tortura, talvez acalmada pela voz mais dócil e melódica que ouvi (a seguir à do professor da faculdade Eduardo Sá) eu pude voltar para casa percorrendo o bairro simpático nas redondezas do Parque da Cidadela.
E foi precisamente por aí que me apercebi da enorme extensão do parque, onde centenas de lápides jazem, votando ao lugar uma tristeza que me agarrou ao gradeamento, tentando imaginar quem foram aqueles que agora ali vivem entre os ciprestes. Soldados, homens de ninguém, outrora frentes de uma guerra e agora memoriais e herança de uma cidade que também chorou o sumiço dessas vidas. E abate-se uma tristeza imensa porque ali está a prova de que existe na humanidade uma infindável tendência para o mal.
E ao longo deste caminho esqueço-me da minha dor. Do dente. Porque o que é isso afinal perante aquele pedaço de história?

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