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A mostrar mensagens de novembro, 2016

A minha praia, sem comboio

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Não me lembro da minha praia sem esse ícone de boas-vindas. Uma carruagem de comboio, das antigas, sem que eu saiba precisar pormenores da instalação, mas lá estava ela, adaptada para bar e restaurante. O que é certo é que haviam muitas teorias em torno da vinda daquele vagon para ali. Imagino outras tantas sobre a sua retirada. Para mim, o que importa é que deu segundo nome à praia, a sua identidade. E se aquela era a praia da “Neves” deixou de o ser. O comboio estava lá. Os fins de tarde eram ali. Lembro-me bem do dia em que entrei a primeira vez na parte inferior do bar, de lajes lisas e tudo aquilo me parecer absolutamente incrível, moderno e acolhedor. O mesmo pensara quando espreitei à socapa o restaurante, porque nunca lá comi, embora fosse para mim glamorosa aquela ideia de jantar ou almoçar dentro de um comboio sem nunca ter andado em nenhum, aquela data. Os regressos dos dias longos de praia eram ali mesmo, na esplanada, onde alguém sempre pagava uma saca de cheet...

Todas as vezes que casei

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Foi com o Cohen. Olhar pousado no chão, sob a aba do chapéu, lá estava ele com o Hallelujah, emprestando à cerimónia essa imagem bela de alguém atado a uma cadeira de cozinha. Não levei nunca um bouquet de cactos, nem nunca servi chá e laranjas mas poderia dançar até ao fim do amor, sempre! O amor não tem fim e os homens que escrevem sobre ele também não.

O dia de hoje naquele outro dia

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Eu nunca gostei do dia de todos os santos até àquele dia. Do dia de todos os santos, dos fiéis defuntos, dos finados, de tudo o que se cria à volta de uma tristeza que até faz do Outono mais triste do que na realidade ele é. Desde criança que este era o dia em que via mais pessoas na freguesia do que em todos os outros dias do ano. Vinham de todos os sítios onde viviam as suas vidas para visitar aqueles que moram sob as paredes altas do cemitério e depositavam flores, muitas flores, as mais caras, as mais vistosas, as mais bonitas, numa procissão de vaidade que desde sempre me enervou. Não me lembro deste dia sem ser chuvoso, triste, com aquele cheiro dos pavios das velas de papel prata onde fixava o olhar enquanto as rezas se repetiam sem valor nenhum. Era o estar presente sem estar, na verdade. Mas no dia em que, por questões de trabalho, recebo convite para uma festa de celebração dos mortos na embaixada do México, em Lisboa, abriu-se um novo mundo e eu pensei como poderia ter v...