Não lhe sei o nome

Não lhe sei o nome, nem a idade.
Chamou-me quando eu descia os poucos degraus junto à paragem do autocarro para a entrada do hipermercado.

- Oh menina, oh menina.

Ela tentava descer as escadas, apoiada no corrimão metálico. Nem a vi, ali curvada. Dei-lhe o meu braço para se apoiar e fui devagarinho, tentando fazer-me mais pequena para que ela se sentisse confortável.
Gorro na cabeça a tapar os cabelos ralos brancos, sandálias rotas, falta de higiene à vista e eu sem conseguir perceber aquilo que ela filtrara como importante para me dizer em cinco minutos de trajecto que foi o que demorámos até chegar ao balcão da pastelaria.
Vive com o marido acamado, vai ali à pastelaria comer uma sopa e quando lhe pergunto porque não usa bengala diz-me que se atrapalha com os sacos. Não tem uma vista mas acredito que mesmo que perdesse a outra seria uma mulher independente.
Diz-me que é de Viseu e eu digo-lhe que conheço bem.
Então chegámos ao balcão e ela pergunta se eu quero beber um café que mo paga. Agradeço, ainda atarantada,  e pergunto-lhe se precisará de ajuda para o regresso à rua mas diz-me que não. Despeço-me e é quando ela me diz se algum dia for a Viseu visitar o museu Grão Vasco. Diz que é muito bonito e mais a vista de S. Macário.
Não lhe sei o nome, mas acordei a pensar nela.


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