De Coimbra a Salamanca

Sexta-feira à tardinha. Coimbra à espera. Duas amigas para jantar, um ensaio para fazer, uma noite para viver. As cantinas, os sabores perdidos, as filas não mais vividas, os empregados antipáticos, o jardim lá fora, o frango no prato, o café apressado, o cigarro aceso, o cigarro apagado.
Notas trocadas, compassos salteados, direcção diferente, outrora perdidos, outrora encontrados, a intenção conta sempre. Uma voz diferente, caras novas, gerações diferentes, apelos distintos, o sentido é o mesmo, é a música e Coimbra está lá à espera, na esplanada, na cerveja, nas conversas trocadas, na empalhada salgada, no bêbado cambaleante, na despedida, no adeus até amanhã, na expectativa constante.
A noite continua, sobe rua, desce rua, a conversa, as histórias, os sorrisos, as aventuras, as desventuras. Os long Drinks, o copo rosa, o copo verde, as estrangeiras histéricas, os espíritos, as conversas de arrepiar, os mortos, os vivos. A hora adiantada, o subir da calçada, o espreitar da Sé Velha, o movimento da rua, a guarida esperada, as cartas lançadas, o telefonema absurdo, a psicologia barata, o sono pesado, o calor no quarto, as suposições, o imaginário, o real e o surreal.
Sábado pela manhã. O despertar forçado, o banho tomado, o descer a rua com os sacos pesados, os cabelos molhados, a baixa, o rebuliço, os estrangeiros, o protector solar, os pombos, os sapatos pretendidos, os preços elevados, as sandálias de verão, o subir a rua com um esforço de cão.
Malas preparadas, almoço apressado, omolete aviada, a pressa atalhada. O autocarro parado, a expectativa aumentava, o banco escolhido, o destino traçado, Salamanca esperava.
O sono, o livro para ler, o jornal para ver, a música para ouvir, a paragem, o gelado, novos passageiros, o caminho retomado.
Os Kiwis com casca, o pacote de natas, o sono, a leitura, o naco de pão, a paisagem doirada, os novos acessos, o motorista, as indicações do motorista, Salamanca à vista.
A cidade, as ruas, o rio, a catedral, o hotel, os quartos, as escadas, o elevador, o espanhol arranhado, as duas camas, a troca de quarto, o espaço acanhado, a porta avariada, o calor infernal, as escolhas, a confusão, mas afinal é só um quarto. O átrio, o jantar com hora marcada, a praça, os sons da praça, as esplanadas, as tapas, a taberna, a paelha congelada, a cerveja sem sabor, a sangria gelada, a hora marcada.
A correria, a troca de roupa, o nervoso a crescer, o concerto para fazer, a Basílica sem tecto, os pássaros, as primeiras notas, as canções, os compassos terríveis, os solos inesperados, as cegonhas temíveis. O público, os cd´s para vender, o fado, a guitarra que chora, a alma na voz, Coimbra no coração, a vida é uma canção.
Os aplausos, os sorrisos, as fotos, os cd´s não vendidos, o regresso, a noite esperada, a troca de roupa, a vodka russa, os pikles trincados, ensinamentos para a vida, a agitação da noite, as mulheres bem vestidas, os gelados, a sangria, a cerveja, a esplanada, os hamburgueres e as tostas.
A festa da noite, as horas não dormidas, os casamentos na praça, os desfiles de mini saias, a vontade de dançar, a discoteca escolhida, a música alta, o cantor que dança bem, a bailarina loira, as bebidas caras, os tunos, as conversas em espanhol, as fotos, as brincadeiras, dançar, dançar, a coluna, as coreografias, a festa, o encerrar da noite, o dia a despontar, mais um bar, mais dança, os vendedores de carne,os dentes bonitos, a dança apertada, o dia, o regresso, as palhaçadas, a fotografia de grupo, o cansaço nos pés, a dor de cabeça, os olhos pesados, o apelo de estar deitada, a alvorada, o Domingo chegava.
O hotel, o pequeno almoço, os croissants, o sumo de laranja, descer rapidamente, a cama desejada, adormecer num minuto, acordar em 4 horas, a dor de cabeça, o banho tomado, a roupa arrumada, a cabeça pesada, a hora trocada, o telefone a tocar, a explicação meia dada.
O calor, o autocarro, a vontade de dormir, a noite relembrada,as gargalhadas, os comentários de quem não viu, a fome apertava, o pueblo pequeno, as grades nas janelas,o autocarro parado, o restaurante, o almoço tardio, os brindes, os embutidos, o flan, o conhecer, o ouvir, o gostar de aprender.
O ensaio, as notas crescentadas, o nervoso, a irritação de não tocar, os camarins, as horas paradas, a esplanada, o café caro, mais conversa, as fotos, as tapas saboreadas, o dever a cumprir, os erros, é melhor não rir.
A linda feiticeira, os aplausos, o autocarro para voltar, o amanhã a aproximar, a noite, o descanso, as honras do motorista, a luz apagada, o tentar dormir e a posição não encontrada.
O regresso, os solavancos, Coimbra meia adormecida, a despedida, o regresso prometido,a realidade esperada, mais uns kilómetros e de volta ao epicentro da rotina desmandada.

Comentários

  1. Tu tás lá Nela, tás lá!!!!
    Fartei-me de rir, acredita!!!!
    Até havia pequenos pormenores que tinha esquecido...
    Assim escrito é que vejo que só nos aconteceram aventuras!!!
    Aventuras de rir, de arrepiar, de esquecer e de lembrar!!!
    Tenho vontade de voltar, de sonhar, de acreditar que um dia poderei voltar :)

    Bjokas grds

    ResponderEliminar
  2. Staircase/Marcos: fui a Salamanca mas foi num autocarro alugado porque fui lá tocar com uma orquestra. No entanto o melhor para ir para lá poderá ser de comboio, mas não tenho a certeza...sei que para Vigo ha mas para Salamanca não tenho a certeza...
    Peço desculpa não ajudar muito.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Tudo o que eu te dou

Dia Internacional....

Fronteiras