Born To Life (Banalidades natais)
Ano 2008 e deslizamos para o 3º mês do calendário com o Fevereiro que se despede generoso, com mais um dia.
É impressionante como o tempo passa rapidamente, ou pelo menos é essa a sensação que tenho, como os dias se somam, as alegrias e as tristezas se multiplicam e esta minha aversão pela passagem fugaz do tempo aumenta gradualmente. E faço contas à vida, ao tempo, ao que supostamente vivo e ao que contrariamente desperdiço. E acho esta análise ridícula porque todos os momentos são vividos, melhor ou pior, podemos celebrar a vida, o que somos, o que sentimos, vivemos, acreditamos, partilhámos, o que somos. Primeiro não gosto da passagem rápida do tempo e depois sou capaz de desejar que a semana passe rápido, que o dia x passe depressa porque será complicado e mais uma panóplia de situações que, sinceramente, só provam que nunca estou (ou estamos) bem.
Bem…mas chegamos ao dia 1 e não gostaria de deixar este sem um post.Chegamos ao dia em que posso “vestir” o papel de princesa porque é o meu dia, um dia um pouco diferente dos outros, aquele a que rotulámos de aniversário e no qual celebramos e agradecemos o que somos, e brindámos ao dia em que beijámos o mundo e marcámos o princípio da nossa existência.
Podemos ser “príncipes” e “princesas” todos os dias, mas o dia de aniversário será sempre diferente, mais nosso, com a vantagem de o querermos partilhar com quem mais gostamos, com os que nos querem bem, nos cobrem de mimo, tal e qual a primeira vez em que nos pegaram envoltos numa mantinha fofa, vermelhos e com um choro pegado de quem não quer deixar a estadia dos últimos 9 meses.
E muitos mais se juntaram a embalar o nosso sono, a darem-nos a papinha, a curar as feridas das quedas, não só os pais, os irmãos ou o resto da família, mas também os amigos, os colegas, os vizinhos, os conhecidos. Todos e sem excepção, ora nos embalam e adormecem com beijos doces sobre a testa ou nos dão palmadas pelas birras e marotices que fazemos, pelos deveres que não cumprimos, pelas asneiras que desenvolvemos. Somos nós mesmos e toda esta gente que nos rodeia, a sociedade, o mundo, os meios de comunicação, as novas e as velhas tecnologias, as pessoas que se cruzam pela nossa vida, ainda que sejam meros desconhecidos. A todos devemos um pouco de nós, um pouco que pode significar muito!
E é assim que celebro o dia em que há 26 anos atrás, numa segunda feira pelas 09h00 a minha mãe e pela terceira vez, vivia uma das maiores dávidas da mulher, o ser mãe. Bem sabemos que Ser Mãe é muito mais que os breves ou longos minutos que se suportam as dores do parto, mas só por isso já devemos agradecer.
E foi assim que no Hospital de Esposende e sem pressas nasci para a vida e terminei com os medos da minha mãe, com as dúvidas e com a vergonha de uma gravidez tardia, ao romper dos 40 anos, a qual nunca seria planeada.
E foi com o receio de que as coisas corressem mal que a minha mãe se plantou no Hospital logo no domingo e estaria desesperada durante longas horas, à espera de quem não tinha pressa para descobrir o que de interessante havia cá fora. E mal esperava pelo que viria a acontecer nessa manhã do dia 1 em que o Hospital se alvoroçou porque a bebé (ou seja eu) vinha de pés para o mundo. Até no momento de nascer já vinha “ao contrário”, não é que seja, ou tenha sido sempre “virada do avesso”, mas pronto tive que primar pela diferença.
Quem não agradeceram foram os meus pézinhos delicados que foram quase arraçados para que me colocassem fora de onde eu não queria sair nem por nada. Entre atrapalhações, a minha mãe em estado crítico e o Hospital em alvoroço lá saí contrariada com um belo peso e uma farta cabeleira negra (não se auguravam vantagens nisso).
E sempre quis a minha mãe convencer-me que era muito bonita, que tinha uns olhos reguilas e negros e que nunca imaginou que fosse uma menina pelos pontapés que eu dava. E eu pergunto-me como era possível naquela altura não fazerem ecografias e todos estes exames que agora existem.
E depois fiquei uma bebé gorda, comilona, de cabelos loiros e encaracolados e a minha mãe viria a ter problemas para que eu comesse um pouquinho menos, quando, geralmente, até se verifica o contrário na maioria dos bebes.
Bem…e depois foi a caminhada até ao presente, ora atribulada ora pausada, fui rabiscando a minha pauta da identidade, do saber, da emoção, da personalidade, do ser, do existir, do viver, do sentir, do querer, do amar e de tudo que possa acrescentar em cada dia, em cada mês em cada ano em que irei celebrar ou pelo menos recordar o meu dia 1 de Março, o primeiro dia do resto da minha vida.
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