Noite

A noite está linda. O luar desvenda os contornos dos montes e antevê a lua cheia na próxima semana. É pena estar frio, daria para ficar por aí algures a olhar o céu, o nada, o escuro da noite.
Não tenho sono, apenas uma dor de dentes fruto de uma tarde no dentista no combate às cáries. Porque temos cáries se lavamos os dentes todos os dias? Para que servem, afinal, as escovas e os dentífricos xpto se temos na mesma estas porcarias na boca?
Para trás ficou o arraial, o barulho ensurdecedor dos bombos, dos zés pereiras, sempre a rufar, com ritmos repetitivos e com a força de quem gosta do que faz. Ficou o fogo de artifício, os arcos iluminados, a igreja colorida, o vaivém das pessoas, as senhoras a vender doces e tremoços, as pistas, os carróceis, os tascos e as tasquinhas, a banda a passar, os aplausos, o concerto no palco,o barulho, as conversas, tudo quanto caracteriza as festas, os arraiais do Minho.
Ainda quero ver se no "Meu Querido mês de Agosto" o retrato será parecido com o que vivo bem berto...parecido talvez, igual não será porque vemos, sentimos e vivemos todos de modo diferente.
Hoje fui às compras. Comprei um aspirador. Na verdade precisava de umas calças novas porque esta semana estraguei umas das poucas que me serviam. Mas comprei tudo menos isso. Um aspirador e um balde do lixo. Nada mau.
Nos hipermercados há uma avalanche de coisas para o regresso às aulas. Tudo para a escola. E engraçado que os pais empenham-se em comprar mochilas novas, cadernos bonitos e canetas e estojos coloridos. Tudo bem somado com uma dose de esperança nas boas notas dos filhos e no bom comportamento. E os filhos esses pedem tudo e mais alguma coisa, um rol de necessidades para terem sucesso escolar que, no fundo, nada mais passa do que uma propaganda fugaz que desaparece na primeira semana de aulas.
Lembro-me que, hà alguns anos, por esta altura a ansiedade era mais que muita. É espantoso recordar o quanto gostava da escola, o quanto me empenhava...podia não ter mochila nova todos os anos, mas bastava-me o cheiro a novo dos manuais escolares que encadernava com todo o cuidado e ia abrindo com curiosidade nas matérias que viriam...bastava-me fazer montes de recortes e colá-los pacientemente nos cadernos pretos e depois encadernar...bastava-me abrir o estojo dos lápis e das canetas, preencher o horário e pensar que durante meses iria fazer aquilo que realmente gostava de fazer...estudar. Era assim o regresso à escola, sempre muito desejado.

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