Nem me aquece, nem me arrefece...mas por via das dúvidas..."achas para a fogueira"

Isto do vídeo jocoso-do humor bacoco-das barbaridades ditas-da estupidez em série-dos programas de muito má qualidade-do alarido provocado pela actriz-capa da playboy e brasileirinha sorridente não me espantou, nem tão pouco surtiu em mim aquele efeito de ir a correr assinar a petição colocada na net e defender este cantinho a que ela chama "terrinha". Não, por várias razões simples...
Primeiro, porque para mim Portugal é muito mais do que a caricatura que a senhora tentou fazer do "3" ao contrário, dos pastéis de Belém, da figura de Salazar. Para além disso, do que ela diz, nem os diálogos das novelas me interessam.
Mas preocupo-me com Portugal e gosto da minha terra e, embora não tenha viajado tanto quanto isso, considero que lentamente nos afundámos num dualismo que nos entorpece. Ora dizemos maravilhas deste canto, ora pisamos o que de melhor ele nos oferece, defendemos com unhas e dentes a nossa história assim como, de repente, nem o galo de Barcelos nos diz alguma coisa.
E eu, como tantos outros, desconheço boa parte da nossa cultura, história, geografia...e diria da nossa identidade!
Não quero confundir identidade de um país ou de um povo com a selecção de futebol, não quero confundir patriotismo com bandeiras colocadas à janela, não quero confundir este rectângulo com esse cantar triste do fado...
Mas afinal, o que raio somos? Qual será a nossa programação mental colectiva (que tantos definem como cultura) enquanto povo desta península, desta Europa, deste mundo? Que código genético é este? Será assim tão duradouro que escapa à política corrupta, às economias e casos Freeport e afins? Será que os traços da nossa cultura atravessaram os regimes e persistem nesta democracia, com mais ou menos asfixia?
Sinceramente...sinto-me baralhada... e sinto-me profundamente culpada porque já me ri muitas vezes com homuristas da nossa praça, actores, políticos, dirigentes, figuras da televisão que, mais ou menos, explícita ou intencionalmente gozaram com aspectos do nosso Portugal...da forma como olhamos o mundo, como trabalhamos, convivemos e descansamos.
E quantas vezes não o teremos feito em relação a países terceiros?
Quantas Maité Proenças não existem dentro de nós?
Claro que a diferença é que não vamos para a televisão chafurdar na idiotice...é que se me deixarem eu faço um programa inteirinho sobre o pão com molho de tomate servido ao pequeno almoço em Espanha, seguido da incapacidade dos nossos vizinhos falarem línguas estrangeiras.
Talvez por toda esta informação confusa é que não emito uma opinião decente sobre este assunto, assim como relativamente a tantos outros...e não faço mais do que deitar achas para a fogueira...
Hofstede, um tal senhor dos estudos transculturais disse um dia: " Os portugueses são extraordinária e encantadoramente auto-críticos. Encaram quase todos os povos estrangeiros como melhores que eles. Portugal tem a cultura mais xenofílica que conheço. O maior problema é a profunda dificuldade em desafiar a autoridade e o statu quo". Onde é que ele foi desencantar isto?

Eh pá...não é bem assim...pusemos a Maité Proença a pedir-nos desculpa, transformamos a nossa xenofilia em xenofobia e houve até quem se filiasse no PNR.
Há lá melhor tourada que a portuguesa?

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