4km e uma nica

21h00. Saio pela escuridão envolta nos princípios da lua cheia. Sente-se o fresco da serra e tento lembrar-me onde estacionei o carro. Ao fundo a cúpula vermelha do palácio recorta o céu estrelado. Ouvem-se as corujas a rasgar o silêncio e a dar mistério ás sombras das árvores. Esta saída do trabalho é duplamente recompensada porque chega ao fim um dia demasiado longo e a natureza sussurra um até amanhã nos sentidos.
Sigo em direcção ao mar, a outro dos locais que me conforta porque me devolve um céu lindo, a água espelhada ao fundo, os cães a ladrar nas vivendas, o coelho bravo a atravessar a estrada, a calma possível dos sítios que me afastam da confusão de Lisboa, das ruas agitadas, dos magotes de gente, da azáfama, da má disposição, do consumismo, da correria...
Vou a caminhar escutando as conversas e as risadas dos pescadores que se espalham ao longo das arribas. Mais à frente os restaurantes fervilham, há cheiro a peixe assado.
Começo a correr, tentando controlar a respiração. Não tem sido fácil, todas as tentativas terminam ao fim de um minuto. Sinto um peso enorme nos pés, um rubor imenso na cara que só há-de passar sei lá quando, as pernas a fraquejar, mas uma vontade imensa de não parar. E é assim que chego ao fim de 4km e uma nica. Com muito esforço, esgotada, com dores terríveis nas pernas e nos pés, mas com a sensação boa de que consegui o que vinha tentando há imenso tempo: correr.

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