Um dia

Havia algum barulho. As pessoas falavam entre si e eu estava bem longe dali. Tentavam devolver-me a um lugar e a um ambiente que me era completamente estranho. Tentavam distrair-me. E eu continuava a vaguear com os pensamentos, fazendo um esforço doentio para me afastar de tudo o que ultimamente foi sucedendo. O que esperava, o que sempre soube que iria acontecer.
E não faltou muito até que pude conduzir estrada fora, sem destino.
Um dia estranho.
Um dia em que vi o desespero nos olhos daqueles que presenciaram alguém a saltar de um terceiro andar.
Um dia triste, cinzento.
Um dia em que tive de domar as lágrimas quando o diagnóstico não foi o melhor.
Um dia em que ouvi o que me espera nos próximos tempos em termos médicos.
Um dia em que fiz muitas perguntas sem obter certezas em qualquer das respostas.

Um dia em que percebi que o trabalho que faço é muito importante mas se me enganar nas contas dos vencimentos reponho no mês seguinte, se não fizer o melhor dos recrutamentos o máximo que perco é dinheiro e tempo, mas nada que se compare com o "fazer bem feito de um médico".
Infelizmente não passei pelos melhores profissionais e agora o resultado é feio, muito feio. Aquilo que foi uma má intervenção é agora a causa do mal maior.
Quando tudo parecia que estava bem ou mais ou menos está, na verdade, péssimo.
Não tenho medo da dor. Tenho medo do depois.
Um dia, dos dias para esquecer!

Comentários

  1. Não tenho palavras inteligentes e eficazes, daquelas que curam tudo e explicam tudo, para te deixar, mas podes ter a certeza que do outro lado do teu ecrã, estou eu a fazer força para que tudo corra bem!

    Abraço (apertado e demorado)

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  2. Obrigada Guilhim...
    Algumas vezes, neste cantinho, brinquei com as idas ao dentista...
    ontem não foi dia para brincadeiras!

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