O deserto ficou para trás

De volta.
Foram dias muito intensos. Não levei o meu caderno de viagens e por isso não fui escrevinhando nome de sítios, palavras, momentos, recortes do que vivi em dez dias. Agora mesmo tento lembrar-me da ordem dos percursos e é quase impossível.
Ao longo da viagem fui descobrindo os momentos bons e maus de viajar em grupo. As gargalhadas, os comentários a tudo o que víamos, as fotos que se repetiam perpetuando paisagens que muitas vezes só lembraremos depois de ver as fotos, os momentos em que nos chateávamos porque tínhamos que esperar por alguém.
A voltar iria fazer percursos de montanha, descobrir os montes argilosos que recortam a imensidão de nada. Percorrer a imensidão da estrada com montes, deserto, casas que se confundem com a paisagem, um misto de nada e de tudo.
Marrakesh, Atlas, Garganta de Dades, Ouarzazate, aldeia de Khamlia, vale do Draa, Merzouga, Garganta do Todra, ...
Nunca irei conseguir decorar o nome dos sítios e tão pouco escrevê-los. Guardo os cheiros, a loucura de Marrakesh com a poluição, o emaranhado de tendas, de gente que nos puxa pelo braço para comprarmos algo ou para pedir dinheiro, as múltiplas barracas de comida na praça, com tudo o que se possa imaginar em condições precárias, as mulheres tapadas, os tambores, o sumo de laranja que foi o melhor que bebi até hoje, as especiarias, os cheiros do bairro das tinturarias de pele, os Riad´s, os restaurantes de luxo enfiados em ruelas sujas, com prédios a cair, as motoretas que serpenteiam as ruas, as mesquitas e o chamamento ao final da tarde,  a parte nova da cidade que parece um mundo distante da Medina, as influências francesas, os sítios de massagens e de banhos Mammam. Marrakesh parece acordar e adormecer na praça Fna e quase que nos fere os sentidos de tão intensa que é. É um comércio ao ar livre. Contrasta com o silêncio do deserto, com o nascer e o pôr do sol de paz, com a imensidão dos montes argilosos, com os vales de palmeiras e o verde da vegetação que crece onde existe o mínimo de água. Com as aldeias escondidas, com os nómadas no deserto que vivem em tendas feitas de pele de camelo e de cabra, onde as crianças têm cabelo crespo, olhar vivo e, apesar de todas as condições agrestes, um enorme sorriso que nos faz lembrar o quanto minúsculos somos quando pensamos que por cá vivemos mal. As crianças pedem-nos caramelos, canetas e moedas. Algumas pedem-nos para trocar moedas de euros pelos dihames pois não sabem o valor das moedas que os turistas lhes oferecem. Distribuí umas barritas de cereais que levava na mochila e os miúdos ficaram super contentes. Acho que nunca irei esquecer isso, nem tão pouco os bébés gémeos da família nómada que visitámos e que nasceram ali mesmo, no casebre de terra batida, juntando-se assim às duas irmãs mais novas. E em toda a parte éramos recebidos com o chá com folhas de hortelã que sempre preparavam como boas vindas.
Guardo também o sabor da comida, os cominhos que estão em praticamente tudo, o pouco sal na  contrastando com o picante. Os caldos espessos e picantes, as tagines de legumes e carnes, o couscous, as brochetas, o pão (que era maravilhoso), a pastelaria marroquina, o frango de mel e amêndoas, as melancias doces e frescas, as tâmaras, as saladas com arroz, a pasta de cocuetes (não sei como se escreve)...











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