Na viagem

Hoje, todo um conjunto de fatores se haveriam de juntar para que eu perdesse o comboio para o qual já tinha o bilhete comprado. Entre o mau humor depois de saber que tinha de pagar mais para trocar de bilhete e a constatação de que me sobrava tempo para uma entre as várias opções: aprofundar o calão esperando sentada em qualquer um dos espaços da estação que servem para o efeito (depois de uma breve nota introdutória no metro, com um caso de polícia, com certeza), ir visitar a interessante casa de banho provida de roleta giratória para colocar moeda, fado como banda sonora e uma mesinha adornada de naprons e vasos (uma casa (de banho) portuguesa, concerteza), entrar na minúscula loja de jornais e revistas para ler os títulos e deitar todas as prateleiras abaixo com a quantidade de sacos, malas e apetrechos que transporto (sim, já me aconteceu e foi chato) e ir sentar-me nos bancos de espera junto à linha de embarque e ler um pouco. Pois bem, optei por esta última.
E lá peguei novamente no livro que me acompanha quase há um ano para que, momentos depois, chegasse ao fim de tantas histórias. Nunca li um livro tão ousado, ou melhor que me transmitisse tanto erotismo (talvez agora perceba porque um dia a M. Crawford o tenha mencionado como um dos favoritos).
Mantém-se a pergunta que expandi em cada contexto: "Não dependem todas as coisas da interpretação que damos ao silêncio que nos rodeia?".

"Tem de haver sempre um laivo de esperança se quisermos sentir plenamente a qualidade do nosso desespero; sim, é preciso também lembrar que onde há fé há dúvida".

E o mais curioso é que sempre que leio um livro que evoca cidades ou lugares sinto, na maior parte das vezes, desejo de conhecer esses locais. Mas Alexandria não teve esse efeito de viagem em mim.

O certo é que será livro para ler novamente como todos os outros que cá tenho. Porque tenho memória de hoje.

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