#27/06/2015 Em Torun, em busca do macaco
A
viagem de comboio permite dormitar com solavancos, ler e ir vendo que a
paisagem agora vestida de verde se deve também a longos campos de milho. As
casas grandes com grandes jardins, típicas dos nossos emigrantes, não existem
por estas paragens. Por aqui existem casas humildes mas imagino que dentro
delas se travem muitos invernos e muito mais do que ter vinte divisões onde na
maior parte delas nunca se entra.
À
chegada, uma estação em obras e do outro lado da estrada um hotel com aspeto
californiano e uma longa mata, com alguma sinalização que me faz prever que por
ali exista um camping.
Depois
de alguma excitação viro à esquerda e sigo por um passeio que me levará a uma
ponte onde finalmente vejo sinalização que indica que estou no caminho certo. E
vejo ali, logo à entrada, a concha do caminho de Santiago. E sorrio para comigo
e recuo até 2012 quando meti a mochila às costas e fui seguindo setas até à
Galiza. Sobre a ponte vejo agora um rio largo (Vistula) e a cidade ao fundo, no
seu castanho dos “tijolos de burro” (um dia ainda entendo o porquê deste nome),
de onde sobressai uma torre com um relógio dourado – a igreja de S. João
Baptista. Virada para o rio tenho a cidade do lado esquerdo e uma frondosa
mancha verde que vai até á agua, do lado direito. Há um pequeno barco de passeio e outros
atracados e transformados em restaurantes e bares. Por ali ainda não se vêm
muitas pessoas a passear no longo corredor que ladeia o rio mas viria a
perceber que todos estavam no centro da cidade, onde realmente havia muita
gente pelas ruas.
Da
cidade sabia que é o berço do Copérnico mas isso já é comum por estas paragens
encontrar o local onde nasceu ou viveu algum virtuoso da arte ou ciência.
Mas
depressa viria a perceber que ainda bem que esta cidade foi uma das poupadas da
guerra porque em cada rua vi casas de fechadas com detalhes lindíssimos e cores
diferentes. As placas de lojas, restaurantes ou cafés são em si mesmas peças de
arte, em ferro, em jeito medieval e há becos com estatuetas, criaturas
imaginárias que não sabendo o propósito de ali estarem aguçam a imaginação. E
prosseguem as esplandas, com as floreiras coloridas que tanto gosto de ver, as
gelatarias como montras daquela que é, talvez, a maior predileção que
caracteriza este povo – o gelado (lody).
Cidade
arrumada, limpa, povoada de excursões de polacos, brinda-nos com portas de entrada
como se fossemos entrar para uma fortaleza ( e as ruínas de uma ali existem) e
numa das ruas há um grupo de jovens que toca na rua, ali mesmo em frente a uma
galeria. E ali estariam praticamente o dia completo, sem pausas, numa paixão ao
violino e ao violoncelo.
Perdi-me
pelas ruas, fotografando as casas, espreitando portas secretas, parei para
almoçar pierogis, beber cerveja e ler. E ouvir as pessoas sem que nada entenda
do que dizem. E observar o que há de novo numa cidade que é realmente bonita. E todos os becos devolviam-me à rua principal Szeroka, a “rua
direita” ali do sítio.
E
prometi a mim mesma que da próxima vez
que leia alguma coisa sobre a cidade antes de a visitar vou fazê-lo com mais
cuidado, pois confundi “donkey” com “monkey” e andei quase duas horas à procura
de um macaco que nunca existiu.
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