Quando o Kevin falou...




A volta pelo lago já é uma rotina, mesmo quando as tardes têm sido mais quentes e é quase impossível respirar sem engolir dezenas de mosquitos.
Sigo pela zona para bicicletas e mais à frente da pista de ski entro pelo bosque, agora de verde frondoso, tendo despido totalmente as roupas do Outono e Inverno. É absolutamente incrível observar todas as mudanças da natureza, de estação para estação.
E passo pela represa praticamente sem água, pelo parque de diversão dos cães e dou a volta sempre junto ao muro de betão que separa os caminhos do bosque, dos terrenos do zoo.
Ainda me lembro da primeira vez que tentei descobrir estes caminhos. O medo que senti, a desorientação no espaço e na rapidez com que me socorri do telemóvel para ativar o GPS.
Uma tonta, é o que sou! Porque sempre fui para todo o lado à descoberta de caminhos e quanto mais pensamos no medo mais fazemos com que ele exista.
Mas, desde aí, o telemóvel vai sempre comigo e, nas mãos, as chaves de casa.
E o Kevin. Sempre silencioso e parco em palavras.
Hoje, ia eu já com paredes meias com o zoo, e duas senhoras acompanhavam mais ou menos o meu ritmo nas suas bicicletas. Ora avançavam, ora paravam. E, num momento, em que esperavam uma pela outra percebi que a agilidade de manobras não era qualidade daquelas duas, o que se veio a revelar ainda mais quando o Kevin disse aquilo que sempre diz: quantos kilómetros eu já corri.
A voz ecoou demasiado alta sem eu mesmo saber algum dia que a dita aplicação teria volume para assustar as senhoras das bicicletas e estas fazerem tal algazarra que despertaram os animais do zoo que, aquela hora estariam prontos para dormir.
Tem havido muitos fins de tarde, mas nunca um em que Kevin tenha falado  mais alto.



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