Verdades de uma noite de verão

Estão 25°, não corre uma brisa e está uma lua linda e perfeita para uma noite de verão.
Tudo acontece lá fora enquanto eu estou aqui, de pés esticados sobre duas almofadas, na tentativa que eles retomem o seu tamanho normal.
O quarto parece uma sauna e esta minha predilecção por hostéis de quinta dimensão ganha um novo fôlego. Tomara que revejam as medidas da cabine do duche, mas eu nem me atreveria a deixar esse comentário porque ainda dizem que o problema é meu, do tamanho, portanto!
Na minha cabeceira repousa um livro de uma viagem, para as minhas viagens. "Dentro do segredo", de José Luís Peixoto. Mas temo que hoje não lhe pegue.
Caminhei horas debaixo de sol abrasador, com sandálias de 0,10cm como manda a tradição. Não tenho plantas dos pés, tenho carapaças rijas desde o tempo de miúda em que andava sempre descalça.
Andei mais de uma hora dentro de um comboio onde praticamente não se respirava, perdi-me nos autocarros, aventurei-me de táxi, vi as coisas mal paradas com alguém que sofria de bebida e debilidade mental. Pedi orientações num parque e vi uma família seguir pedalando ignorando o que eu dizia e imaginei-me a pessoa mais perigosa à face da terra.
Comi dois pêssegos e um pão e deveria ter bebido o dobro da água.
Tudo isto com uma vontade imensa de ver pela primeira vez e despedir-me ao mesmo tempo.


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