À noite...
Ou então estarei a exagerar
porque segundo o meu colega de trabalho aquilo que aconteceu esta quarta-feira à
noite foi, afinal, uma palmada de motivação.
Um dos meus lugares favoritos
na cidade é o lago ao pé da minha casa. À sua volta, vi as cores de Outono
quando aqui chequei. Observei vezes sem conta as aves pousadas em bandos, num
gralhar que interrompe o silêncio de qualquer fim de tarde. Vi o Inverno chegar
e o gelar das águas empurrando as aves para o centro até que partiram para
outras rotas. Descobri o bosque à volta deste círculo de água e o zoo que é
vizinho da linha de comboio a carvão, que parte dos jadins vizinhos ao lago.
Quase todas as vezes fi-lo a correr
ou a caminhar. Outras tantas vezes sentei- me a ler e a observar os banhistas
corajosos de verão ou provei um dos melhores Siernikis da cidade, no café a
meio do caminho.
Assisti a provas de remo e um
dia aventurei-me a descer o monte junto à pista de ski naqueles carros tipo
montanha russa.
O lago é um centro comercial
aberto. Porque aos domingos famílias inteiras rumam até lá e fazem a volta dos
tristes que só é triste no nome.
Aos fins de tarde há sempre
namorados nos inúmeros bancos ao longo das margens, há pessoas a correr, a
caminhar, pais a ensinar os filhos a patinar e a andar de bicicleta. Há o hotel
de grandes varandas viradas para o lago e, não raras as vezes, há as típicas fotos
de casamento
O lago é artificial, foi
construído na década de 50, mas a vida que tem à sua volta fez-me duvidar desse
facto.
E eu poderia continuar a
exortar o quanto vivo este lugar pelo que é e por ser o único ponto de água que
tenho mais perto.
Durante todos estes meses já
perdi a conta as vezes que fui ao lago. Faz parte da minha rotina. Nunca tive
medo de andar por ali à noite porque nunca me senti insegura em nenhuma parte
desta cidade.
Até à passada quarta-feira, dia
ou noite da “palmada motivacional”.
Eu corria do lado das termas,
numa zona onde existe menos luz à noite e apenas os focos das bicicletas ou as
florescências dos que correm rasgam a escuridão. Já me tinha cruzado com outras
pessoas, corria no meu vagar e no meu duelo de consciência entre o desiste e
continua até que levei uma valente palmada no rabo. Não foi um apalpão, uma “mãozada”
como lhe chamávamos no ciclo. Foi uma palmada! E numa fracção de segundos
ganhei asas nos pés, numa tentativa estúpida de alcançar aquela abécula que
seguiu caminho pedalando e enfiar-lhe as chaves de casa pelos olhos dentro. Mas
estaquei de raiva de medo e hesitação, sem saber se voltava para trás, se
continuava, se chamava a polícia ou se continuava a correr.
Corri. Sempre de olhar sobre os
ombros e alerta.
Que não se espantem aqueles que, de impulso, eu empurrar da bicicleta que se aproxime sem aviso.
Que não se espantem aqueles que, de impulso, eu empurrar da bicicleta que se aproxime sem aviso.
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