#24/12/2015 - O abraço
Natal.
Escrevo-te com a mesma melancolia
com que está disperso o meu pensamento enquanto olho a lua quase cheia, por
detrás do céu cavado de nuvens. Rebentam os foguetes nas imediações anunciando
a tradição da igreja. Volto para dentro enquanto penso que o nascimento do
menino Jesus para mim sempre foi confuso porque como era possível um menino
nascer e ao mesmo tempo vir distribuir presentes?
Cá em casa, e para a geração dos
meus sobrinhos, há pelo menos dezoito anos que a magia ficou a cargo do Pai Natal.
E agora, depois de toda a
azáfama, da euforia que se esgota numa mesa cheia de comida, no reboliço da
entrega de presentes fica este silêncio. Eu, o copo de espumante e os
amendoins. É assim há anos.
Não é o silêncio que me incomoda,
é saber que montei em torno do Natal uma perfeição que não existe. E se neste
dia penso em todos aqueles com quem a vida me cruzou, penso nas vezes que
falhei com essas mesmas pessoas, penso nos amigos de agora, nos que foram
ficando mais afastados, nos colegas de trabalho, nas pessoas com quem nunca
falei mas pelas quais tenho uma estima imensa, penso nos lugares comuns, nos
sítios que nunca visitarei e naqueles onde sei que nunca mais conseguirei
voltar. Penso na vulnerabilidade de tudo o que somos. No Natal e fora dele.
Penso no olhar inocente da minha
sobrinha quando viu o Pai Natal entrar a porta da cozinha e na emoção do seu
rosto, de respiração contida, quando lhe pediu um abraço. Sim, um abraço. Foram
as palavras ditas com convicção que surpreenderam todos.
Sabes Natal, e no fim de contas
percebo que é esse abraço que fica sempre a faltar quando se esgota a ilusão e a
magia. Um abraço que nos resgate do torpor da saudade. Saudade até do que nunca
se viveu.
poetisa como sempre
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