Um mês depois

Ela estava ali do outro lado das portas de vidro a miar de forma gemida e num estrondo manda-se para o puxador da porta e entra de rompante, seguindo-se um voo pela mesa.
Isto não é uma gata! É o demónio vestido de pêlo amarelo que, por acaso, está espalhado por toda a parte, desde os tapetes, ao computador e às cadeiras...
Um mês depois eu conheço o maior dos embustes ao nível dos produtos que foram inventados pelo homem: os sprays "educadores" de gatos! Para ela é ambientador e do bom, por isso não há zonas proibidas! Nem mesmo o sofá que, embora feio de morrer, era novo e será a causa das causas para o senhorio aplicar uma daquelas cláusulas dos contratos de arrendamento que pensamos nunca vir a utilizar.
Um mês depois eu acordo às 05:00 da manhã com o raspar das unhas na porta e ela novamente a mandar-se à porta para tentar entrar no quarto e esperar que a deixe andar a passear-se por cima da minha cabeça e arrancar-me cabelo com os dentes. Ainda por cima cheira mal da boca porque come que se farta!
Eu nunca tinha conhecido um gato que abrisse gavetas e portas e gostasse de ir para a banheira para beber água com espuma do banho. 
Um mês depois eu às vezes não consigo ser pontual em compromissos porque chego a casa e tenho que andar a limpar aquilo que o ser mais limpo (assim o dizem) espalhou pela cozinha!
Um mês depois eu sinto saudades das travessuras dela quando estou mais de um dia sem a ver mas cada vez mais me convenço que tem muito mais de preocupação do que saudade, pelo medo de encarar o estado da casa quando regresso.
Um mês depois ando com os pulsos e os calcanhares arranhados porque o pequeno demónio manda-se em voos picados para me fazer lembrar que o sossego acabou no dia em que a adoptei.
Um mês depois eu estou cerrada na sala a tentar escrever enquanto o prédio inteiro sabe que há um felino fechado na cozinha.







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