2017

Chegarás ébrio de brilho e de cor. Mesmo num mundo às avessas onde morrem crianças, joga-se ao poder com bombas e ainda não há cura para o cancro.
Chegarás e brindaremos. Com a champanhe ou o champanhe, nunca sei, mas que é sempre de uma amargura e por isso aproveito para cerrar os olhos e desejar muito. Com tanta fé como se de uma torcida brasileira se tratasse.
Chegarás com os mesmos dias, com os problemas do costume , as mesmas dúvidas e abismos.
E também as mesmas esperanças quando ouvimos uma música que gostamos ou lemos algo e pensamos sobre o que nos faz sonhar. Ou quando alguém nos faz sorrir por dentro e acreditar que há um resto de bondade.
Chegarás com esse peso comparativo de todos os anos que já vivemos, a evocar se morreram mais ou menos artistas que gostamos, se fomos ou não campeões no futebol e no desporto em geral, se houve ogres que ganharam na política e outros que para lá caminham, se aconteceram mais desastres naturais ou se os nossos adoeceram, festejaram ou partiram para sempre.
Chegarás debaixo do escrutínio no amor, nos negócios, na sorte, no dinheiro e na saúde e com as novidades anunciadas de um qualquer vidente e aquela ilusão tão boa de que o amor tudo salva.
Chegarás com a superstição do sete, passaremos os primeiros quinze dias a desejar que tudo seja bom e depois esmorecerá a novidade, o recomeço, volta-se à rotina e ao saudosismo do tempo que voa, que nos põe idade em cima e nos tira a juventude das ideias, dos actos e vontades. E a memória. Essa parte de mim que tanto me trama e que eu gostava que fosse límpida quando falasse de 2017 no passado.


*foto: pôr-do-sol na praia do comboio (Belinho-Esposende), no dia 25/12/2016.




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