Uma casa, uma história


Quase sempre escrevi dali. Ora sentada no paredão do miradouro, ora na esplanada, quase sempre sozinha, a não ser que alguém pedisse para partilhar a mesa. Traziam-me tremoços com azeitonas e durante sete dias o fígado gritou.
Às vezes lia, mesmo quando havia música ao vivo e era pouca a luz do candeeiro da rua. Terminei o livro da torre do Xavier ali. Com um nó profundo na garganta. Duas histórias de solidão.
As casas do largo têm terraços, portadas amplas mas há uma que está fechada. Outra, mais acima, é uma varanda para o céu.

Clarisse tem a casa fechada. Como o seu coração. 
O verde profundo dos seus olhos e a franja desajeitada dão-lhe um ar de menina, embora as suas mãos revelem mais estações. A casa tem o seu nome. Imagino a sala ampla, tapete largo, almofadas de cores fortes espalhadas pelo chão. Aquele conforto de paredes brancas e soalho de madeira e uma enorme estante de livros virada a poente. 
As viagens prolongadas não permitem que fique ali, a contemplar o sol a dourar a sua sala. 
Quase sempre quando chega quer partir e quando vai quer voltar.
A chávena do café ainda repousa no pequeno balcão da cozinha. Desde aquela noite que não mais abriu as portadas. Não sabe se está vento, que é lua cheia, que se toca blues na rua. 



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