Aquele outro domingo

Passou um dia.
O assunto já quase esgotou, as imagens da tragédia já chegaram a todos, os relatórios dos gabinetes e dos sub-gabinetes já estão em produção e daqui a alguns tempos esperemos que não seja uma nova tragédia. A do abandono.

Depois de uma semana em que fizemos o mundo mais pequeno do que ele já é, trocando contactos, ideias, angariando e transferindo donativos, decidimos ir para fazer algo concreto.

Alvorada em Lisboa e estrada fora até que se chega ao IP3 e nas primeiras indicações para Porto da Raiva e para a livraria do Mondego começa o manto de cinza e negro. A devastação.

Imaginamos tudo e, no fundo, não temos o alcance de quem o viveu.

Recuo a 2009 quando já só vi uma foto e um capacete em cima de quatro tábuas. Arrepio-me e rasam-me os olhos de água ao ver a coluna de camiões e carrinhas de ajuda das gentes de Esposende.

Dali para a frente é o registo de casas queimadas, floresta ardida, barracões, carros, e armazéns destruídos. Ficaríamos a saber que bastaram doze minutos para animais morrerem e quinze anos de trabalho darem lugar à angústia e ao desespero.

Um dia nos levou a repor sistemas de rega, limpar barracões, empilhar chapas metálicas e mudar animais de sítio. Foi quase nada porque nunca conseguiremos inverter o destino daquela família. Mas ver aquele canhão de água a funcionar sobre a terra seca também devolveu um olhar menos vago ao homem que não teve tempo, sequer, para o luto dos seus.

[Um sorriso de esperança e o momento em que disse “albaroar” em vez de “abalroar”. As ovelhas que me perdoem e a língua portuguesa também.]













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