Aziúme
Começou pela manhã, no banco. Já tinha sido ontem mas como hoje tive de voltar, a história repetiu-se.
- Tem de ir ao seu balcão, "tá" a ver? (dito a olhar meio para o computador meio para o infinito)
Eu a ver estava, mas depois desta frase ceguei.
Depois foi na loja onde se vende desde o secador de cabelo ao telemóvel. Quando me é dada a oportunidade de falar, ainda que não existisse contacto visual do outro lado, percebi que depois dali só haveria o caminho da meditação, junto ao sistema de senhas do serviço de avarias.
Depois foi, ainda, ao telefone, no que seria uma conversa normal mas que de tão azeda se mostrou que continuo sem perceber porque queremos ser tão diferentes em tudo e acabamos tão iguais (em tudo o que é péssimo, entenda-se).
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Às vezes, sentimos frustração no trabalho, em casa, na vida em geral. Não gostamos do que fazemos, ou gostávamos de ter feito diferente. Não temos qualquer visibilidade, aquilo que produzimos diariamente nunca vai sair em revistas da especialidade, nunca vamos ser referenciados como um talento, nunca vamos poder falar cinco idiomas, viajar pelo mundo, fazer as coisas mais incríveis. Vamos ser apenas nós, sempre medianos nos feitos e cada vez maiores no aziúme.
E caramba, mesmo assim, ninguém reconhce o valor de um "Olá, bom dia ou boa tarde, em que posso ajudar"?
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