Jornal de domingo

Hoje é domingo e há vinte e dois anos que se compra o jornal lá em casa. Poderei dizer, um dia, que terá sido a única coisa boa que fiz por aquela casa.
O meu professor de economia do liceu, na altura, disse-me, já não sei a que propósito, que seria um bom hábito e eu convenci a minha mãe a dispensar os escudos para o Jornal de Notícias. Todos os domingos, mesmo aqueles em que não estávamos em casa. Na altura trazia-o o meu pai, da venda da Gabriela e, mais tarde, na sua ausência para sempre, trazia-o o meu irmão, da bomba de gasolina.
Ainda hoje é assim.
Com o Jornal vinha uma revista, a Notícias Magazine, cuja colecção estimável foi ganhando espaço, até ao dia em que tive de ir pôr tudo ao papelão. Comeram-se as capas pelo bolor e pela humidade da casa e não houve outro remédio. A revista acabou por ser sempre a parte preferida do jornal, tendo em conta que o JN era e é um jornal, na minha opinião, com demasiadas notícias locais votadas à desgraça.
O jornal de domingo era, no fim de contas, o jornal da semana também, uma vez que tanto a minha mãe como o meu pai, prosseguiam as leituras durante a semana daquelas notícias que já eram velhas mas que, para eles, tinham sempre algo novo.
Sempre que existiam edições especiais da revista, geralmente, dedicadas à moda ou ao lifestyle e o formato da revista era maior, mesmo ainda sem a ler, a minha mãe, invariavelmente, dizia - "hoje a revista não presta".
Há duas semanas que a minha mãe, pelo telefone, me diz que a revista não presta. E eu lá explico que a revista se dividiu em quatro revistas diferentes, com temas abrangentes que são os mesmos da revista antiga. O formato mudou mas o conteúdo não terá mudado tanto assim.
E uma coisa já não mudará nunca - ao domingo, compra-se o jornal.


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