Ao M., sobretudo, ao M.


Nulípara.
É a primeira palavra do relatório médico, logo a seguir ao número em idade.
E lembrei-me logo da sexta-feira, no restaurante da cadeia de fast food da segunda circular, naquela abertura solene de uma viagem, com a euforia de três crianças (que depois seriam cinco) e aquele aviso das mães para que me preparasse porque iria ser um fim-de-semana intenso. E foi. 
Porque não existe teoria, autor, investigador, psicólogo, pai, mãe ou a intervenção divina ou do universo que  tenha a solução milagrosa de acalmar uma birra, um drama, uma consumição de uma criança. Tenha ela dois ou dez anos. Ou, simplesmente, seja a solução mais acertada para apostar num crescimento livre de tudo que é menos bom e que, tendencialmente, atribuímos a factores exógenos (extra quatro paredes). Sem o ser, claro.
E quando tudo me parece vazio, hiper quadrado, com crianças formatadas para um mundo descartável o M., de dez anos completos, chorou porque não conseguiu, logo à primeira, visitar o amigo da mesma idade que se mudou para o Porto.
Não quero, pois, guinar em pastoralismos mas é nesses pequenos detalhes que ainda acredito quando penso se poderei, algum dia, vir a mudar a primeira palavra de um relatório.


L. e a amiga gaivota no Monumento a Garrett | 20.10.2018

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