O Americano


Dois anos depois e aquela veia saliente da testa ainda não fez das suas.
Neste dia, em que olhava para os montes e pensava ser impossível chegar ao mar para ver o fim da terra, conheci o Mark. Não estou bem certa se é era assim o seu nome mas não importa. Sei que era Americano, tinha mais de cinquenta anos, tinha feito o caminho Francês para Santiago e, por isso, andaria há quase dois meses de mochila às costas, sozinho, de olhos postos no horizonte. Não sei se era de Ohio ou do Kansas mas lembro-me que esperou por mim naquela recta final penosa, ainda bem longe de avistarmos a costa e de, no momento em que avistámos o mar, bem lá ao fundo, eu lhe ter visto outro mar nos olhos.
Perguntei-lhe, (estupidamente), se era a primeira vez que via o mar. Respondeu-me que não, mas que não sabia se não poderia ser a última.
Não o voltei a encontrar até ao km zero. Mas são raras as vezes em que olho o mar e não me lembro dele.

Caminho de Santiago até Finisterra 
>> Cee | 12.10.2016

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