O rosário

Tinha a pele branca, muito branca. Óculos arredondados e sorriu quando a porta do elevador se abriu. Deve ter entrado no zero, eu estava no menos dois e ia para um andar acima do dela.
Foi então que naquele silêncio dos elevadores eu olhei para a mão dela. Tinha um rosário. E ia a desfiá-lo, se é assim o posso dizer.
Quem será esta rapariga que nunca vi antes?  De onde vem, a esta hora? E eu pergunto-me se as orações dela serão as mesmas que aprendi com aquele mesmo objecto? Que Deus evoca?
E eu, na ascensão aos céus (mas do elevador), pensei que já não sei rezar. Se é que alguma vez o soube fazer. Ou se aquilo que circunscrevo a uma oração, o é, de facto.
Saí do elevador, entrei em casa e fiquei algum tempo a pensar que talvez ela possa ter encontrado uma forma de, em cada uma daquelas contas, nos livrar de todo o mal, de todo o disparate, do egoísmo e de tudo o que descaracteriza aquilo que não existe: a perfeição.




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