Aos poucos, mais cidade

Ainda acreditei. Ou tentei convencer-me disso. Que aquele espaço, paredes-meias com o colégio, já com um placard gigante a anunciar um empreendimento, ficaria ali, parado no tempo, no abandono das vontades e das decisões e seria sempre aquele pedaço de campo, árvores à volta daquele muro rural defronte da "minha" Rua Direita. Assim, intocáveis. Ao mundo da cidade. 
Mas vieram as gruas, as máquinas, os contentores, os trabalhos sem dias de descanso. E eu fui, aos poucos, convencendo-me que aquela seria uma quinta diferente, de portões automáticos e câmaras de vigilância. Depois, as minhas atenções voltaram-se para aquela árvore de grande porte, junto ao muro e que, pela sua copa arredondada, me parecia um pinheiro manso. Mas um pinheiro não morre assim. E aquele, simplesmente secou. E todas as manhãs, sempre que curvava o carro ali, eu pensava que ainda restaria uma solução para aquela árvore. 
Até a uma manhã da semana passada. 
Os troncos amontoados junto ao muro disseram o fim. Da árvore e, provavelmente, do que restava de  quinta também.



Lisboa, 24.11.2018




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