#23.03.2019 - a aldeia no parque




Eu segurava o peito, a cabeça ou tudo. Tinha descido a rua a pensar que a preguiça mói mas dá-me tempo, também. Foi quando os vi, a fechar o quadro. Esse quadro do parque que é a minha aldeia. Onde já reconheço as mesmas famílias, o casal de idosos que abraça árvores, o rapaz e a rapariga que sempre se cumprimentam com um abraço e vão tocar guitarra para a sombra, aquela miúda que está sempre impecávelmente vestida e maquilhada e o namorado que a olha quase sem vontade de a beijar. E agora eles. Um de fato escuro, gravata em tom lilás, o outro de boina, gravata riscada e camisa clara pareciam saídos de uma praça de pelourinho e coreto. Mas estavam ali, à entrada do parque da cidade grande, ao sol, e com aquele expositor que nos convida a ser testemunhas. Eu baixei-me para apertar o atacador e um deles sorriu e ia dizer algo que fechei com um bom dia. Quase sem conseguir falar digo-lhes que nem Deus, nem um personal trainer. Já não vai lá de modo nenhum!

O expositor convida-nos a ser testemunhas de Jeová mas a verdade é que dei três voltas ao parque e eles continuaram lá, a lembrar-me dois amigos que jogam dominó numa praça, nos seus fatos domingueiros. Tão diferentes daquelas pessoas que iam aos domingos, bater-nos às portas e deixar ilustrações coloridas. Eram mais urbanos, esses. Mas talvez não marcassem tanta diferença, neste parque citadino.




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