Ao terceiro toque

Estacionei o carro do lado oposto ao habitual e desci a rua em frente à escola. Soou o toque da campainha e voltei àquele recinto nas manhãs em que, quase nunca, havia um terceiro toque sem o abrir da porta, seguido de um "bom dia".
Lembro-me, sobretudo, das manhãs, desse lado do bloco de salas quando ainda não batia o sol. De entrar tudo aos encontrões, de arrastarmos as cadeiras, de escrevermos o sumário nos cadernos e dali transformarmos responsabilidade em conhecimento. 
Ah, mas sempre que se gritava "furo", os planos de ocupar noventa minutos eram decididos rapidamente, desde fugas para o rio, comprar gomas no cafézinho junto ao campo de futebol do qual já não me recordo o nome ou simplesmente ir para os bancos corridos do pavilhão principal.
E em tudo o que o tempo se encarregou de dissolver, um toque de campainha e aquele gralhar do recreio será o que nos resgata numa manhã, também ela de mochila às costas, mais de vinte anos depois. 

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