As redes sociais


[Porto, 13.04.2019]

O mundo das redes sociais parou e eu lembrei-me deles, ontem. Carruagem vinte e dois e lugar de corredor. Ele ia do lado da janela. Alto, cabelo muito grisalho, argola fininha na orelha e aquela voz rouca de gringo ou daqueles que nos interpelam na rua, já de madrugada, para pedir tabaco. Ele barafustava consigo próprio, suspirava e lamentava as sucessivas perdas de rede. Tanto que desistiu de tentar falar com ela pelo telefone e passou a escrever pelo messenger, primeiro, e depois pelo whatsapp.
E eu ia de livro aberto mas distraí-me com a conversa e depois olhei bem pelo canto do olho.
Chamava-se Bé. Ou ele tratava-a assim.
"Amo-te muito, Bé" - disse-lhe ainda antes do comboio partir. 
E teve mensagens demoradas, escritas e apagadas que podiam levar entre Caxarias e o Entroncamento a ser enviadas. E corações, muitos corações. 
A distância (Porto e Lisboa, aparentemente) o amor deles, a despedida amarga, o escrutínio social pelo qual estavam a passar. 
E a dada altura ele diz "um livro não se julga pela capa, qual é o problema com a minha forma de vestir? "
E eu já não lia o livro que tinha no regaço. Eu queria ler a história deles. 
E se for por isto, por amor de Deus, nunca faltem as redes sociais!

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