Às vinte e três, à chegada


Cheirava a cedro, em redor da capelinha e naquela escuridão não sei se teria coragem de ir até ao regato, ou às lagoas, mais acima. Sentimos aquela massa de ar frio a prever o orvalho para o amanhecer dos que lá ficam e que vão fazer crescer as histórias para contar vida fora. À ida, o susto com o coelhinho que aparece na estrada. Na volta, uma coruja  e aquilo que nos pareceu ser uma raposa. Não há luz na via e quando subimos as pequenas lombas de alcatrão, há aquele momento em que parece que ficamos sem estrada. Mas há muitas estrelas à volta e em nenhum outro lugar temos pena de que façam chegar o mínimo de civilização. Vêem-se as luzes em Caminha, lá ao fundo, mais longe ainda do que os  pontos vermelhos das eólicas que cobrem a serra. Lembro-me dos garranos e de como será para eles dormir naquela serra. Como se terão habituado a esse zoar das ventoinhas?
Ainda levo na boca o sabor doce do licor de figo e já penso nessa noite de Agosto, em que o Minho encerra ali um dos seus maiores segredos populares.

[eram vinte e três e trinta, à saída da Serra D'Arga]

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