Avenida
Fiz aquela avenida tantas vezes, a pedalar ou mesmo a pé, em diferentes alturas do ano mas sempre me lembrou o verão. Aquela é uma estrada de veraneio. As pequenas vivendas com andorinhas de loiça cravadas nas paredes, os pinheiros mansos de fartas raízes, aquele cheiro do carris do elétrico. Não sei se é porque sabemos que a seguir vem a estrada que nos leva ao mar ou se aquele é o resgatar de outros lugares de sal no corpo.
Hoje via-a ainda mais veranil, quando avistei aquele rapaz a caminhar pelo centro da linha do elétrico, num vagar de cena de filme. Cabelos soltos, negros e ondulados, tshirt enrolada na mochila e o corpo moreno de ser. Os olhos postos no ukulele e ele à procura dos acordes de alguma canção que o consome. Por momentos, quis tudo aquilo numa tela gigante, que saíssem de cena aquela fila de carros, que se desligasse a música que toca no rádio, que tudo fosse ele a caminhar descalço, com aquele olhar sereno. E o som do ukulele não combina com nada disto e trocaria por um violão e ele teria voz grave de embalar versos.
Seria ainda mais bonita, a minha Avenida do Atlântico.
Seria ainda mais bonita, a minha Avenida do Atlântico.
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