Olhos de sentir

Lembrei-me das palavras do meu pai que nunca foi um entusiasta de nada. Quase nada. 
Das vezes que se cruzou nos corredores do hospital de S. João do Porto com os Doutores Palhaços, eles roubaram-lhe essa frieza de ver as coisas. E ele não deixou de repetir que ali estava o princípio de uma coisa boa.
O meu pai já estava numa fase sem ilusões e minimizar a dor que vinha daí era maior proeza do que conseguir aquele olhar inocente e feliz das crianças ainda com todo um mundo por descobrir. Eles conseguiram. 
Lembrei-me disto hoje, quando os Doutores Palhaços vieram ao escritório. E à medida que avançavam no corredor, cantando e espalhando essa magia que não esbarra apenas nas paredes dos hospitais eu senti que o meu pai em algum momento terá sido uma daquelas crianças que vêem estes Doutores com olhos de sentir. Sem preocupações em tirar fotos do momento, selfies, mas sempre com esse filtro real  activo da esperança. 

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