Às duas da tarde

Aquela romaria de gente a passar na passadeira, a entrada caótica para o mercado, o lixo acumulado naqueles caixotes a gritar vergonha alheia. Ainda não ouvi falar português tirando aquela canção que vem da praceta e é na língua do gerúndio. Namorados na relva, de olho nos cães, as barraquinhas de pechinchas hippies à venda e o sol de Agosto a queimar enquanto sigo atenta ao buliço, às trotinetes e a tudo que se interpõe.
E é então que o vejo, nesse cigarro das duas da tarde na sombra da esquina do prédio. Tem o olhar de que o sol de Agosto também o queima, mas por dentro. Olho-o para o ver, porque é figura de proa naquela esquina de janelas altas, paredes renovadas de arquitectura milinonária. Fica-lhe bem a jaleca e aquele momento em que ganha fôlego de olhos fechados, alheio a toda a cidade. 
Ficava ali a vê-lo fumar.

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