A resposta


Tudo o que possa descrever é imperfeito. Porque não lhe fará justiça à dimensão, às cores das rochas e do verde dos prados que se erguem irregularmente, à beleza das árvores que se equilibram no cimo da montanha que esperam os próximos nevões. O nevoeiro que poisa nos cumes daquela cordilheira irregular. O sol que, ora vem, ora vai. 
Eles descem, de varas altas na mão, botas de montanha e fazem desse ciclo de muitos quilómetros a sua vida. São três homens. Não muito novos nem muito velhos. Dependem dos animais que guardam e é a vida daquelas vacas que defendem. O trajecto da rota é estreito e por isso nos apressam na passagem para que elas não se aflijam e não se precipitem declive abaixo. O tilintar dos chocalhos é agora o nosso metrómeno para que elas não esperem, não se desviem do seu regresso a Cabrales. 
E entre esse murmúrio  do Cares que desce, fenda abaixo, em azul glaciar, o ruído dos nosso passos nas pedras soltas da Ruta, as cabras que se mostram à passagem, que as dúvidas mastigam na cabeça. 
Na dúvida, pergunta à montanha.
A resposta, o desassossego. 


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