Começaria assim
Naquele fim de tarde ele era um vazio mais fundo que um oceano. Nem o tilintar dos mastros junto à doca o arrancavam daquele turpor em que seguia, ainda a desfazer o nó da gravata e de olhos postos no chão. Acabaria por cair a noite e ele por ali, sem arrancar ao corpo um cansaço que o fizesse parar. Foi então que inclinou a cabeça para acender um cigarro e viu o pequeno letreiro, no oleado do barco. Um número de telefone, apenas. Enquanto o passava para um pequeno papel não pensou nesse exacto momento, que barco era aquele, quantas milhas já percorrera e que vagas o poderiam libertar de uma ruína lenta.
Estava sem bateria no telemóvel mas algo lhe dizia para não esperar para o dia seguinte. Caminhou em direcção à avenida principal e apanhou um táxi em direcção ao hotel. Sentou-se no escuro do quarto, marcou o número e esperou.
Nada.
Voltou a chamar.
Alguém atende:
-Boa noite, fala o Manuel.
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