Terra que vai, mar que vem


Pensava eu enquanto olhava aquele recorte dunar, o mar crespo e os avanços na linha costeira. Desci o fieiro, a que chamávamos "fieiro alto", de tão grande que era, e voltei ao caminho ladeado de canaviais. De volta à estrada, tentei correr mas mais acima abrandei porque os vi na berma. Ele, homem curvado pela idade e pelo recobro de uma queda com costelas partidas, e a pequena vitelinha, sangrando do cordão que a expurgou para a vida. O rasto de ervas tombadas denunciaram que a viagem já ia longa, naqueles moldes. Ele tentando arrastá-la e ela tentando erguer-se nas patinhas curvadas, para evitar a corda em laço que a apertava.
Foi então que ouvi o meu avô, ali de mãos no cajado, a dizer "a Rita já nasceu". Para logo a seguir entrarmos no estábulo, a luz a denunciar aquele fumo de calor que se levantava do estrume e do estado de natividade puro.
Foi esse cheiro que senti quando me baixei, passei os braços pelo corpo da vitelinha e num esforço atroz a ajudei a erguer para fazer o caminho até ao abrigo.
Ficou apoiada nas patinhas dianteiras, olhar assustado e eu a tentar recuperar forças.
Hei-de voltar amanhã para ver o mar e, no caminho de volta, ver se a "Rita" se aguentou.


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