12.01.2020

 - E por falar no telemóvel, não sei onde pus o telemóvel - disse-me ela.

E eu, sabendo que falava com ela através do aparelho, fiquei sem reacção. Era um entre outros tantos sinais.
Voltei ao domingo, ao meu desassossego como se algo não estivesse conforme, naquela manhã em que apanhava o comboio na estação de Santarém. Acabara de serpentear a lezíria numa manhã fria, a terra lavrada vestida de branco, manhã perfeita, diria naquele cliché-de-redes-socias-com-foto-a-acompahar, mas ficara sem dados de internet quando tentava saber mais sobre o homem bom lá da terra que se finara nas areias do deserto e continuava com aquela sensação de que o mundo não se equilibrava.
Não lhe ligara no sábado à noite porque estava a jantar, porque depois fui para o espectáculo e porque depois já não eram horas. E depois passou a amanhã e meia tarde e eu sempre a pensar nisto tudo e quando liguei não passou de uma conversa sobre o tempo, como sempre.
Só no dia seguinte, viria a saber das reais circunstâncias de uma rotina ao contrário. E dessa manhã de domingo, dessa inquietação na estação de comboio enquanto soprava as pontas dos dedos e me questionava sobre essa ordem do mundo, mal eu suspeitava dessa hora em que ela não teve ninguém para ficar com ela nessa "recta do deserto".

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