A praceta
A Dona Graciete tem 76 anos, vive sozinha e está na praceta Rainha Dona Filipa a apanhar alguns raios de sol. Ela pode. Porque não partilhou o hastag do não-sei-quê-fuck-home para depois ir fazer mais coisas do que a Time out (que agora é Time in) recomenda por estes dias.
A Dona Graciete acena-me ao longe e pede ajuda para ir até à entrada do prédio. Não tem medo do vírus e não tem medo de morrer porque a sua vida já a viveu, nas palavras dela.
Tem medo dos próximos dias em que não tem companhia porque o amigo do quinto esquerdo não pode sair que a filha não deixa. E as horas fazem-se maiores, o tempo ganha uma dimensão redobrada e a televisão enerva-a.
A Dona Graciete não sabe estar em casa como muitos de nós não sabemos e o vírus ainda não lhe roubou a saúde, mas já fez outros estragos.
A Dona Graciete tem problemas de mobilidade apenas, mas nas últimas palavras antes de voltar a casa diz que a praceta é a sua pontinha de esperança.
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