A romaria

Eram as duas da tarde e Manuel ajustava o chapéu de aba, apertava o último botão da camisa e sacudia o pó do casaco. O mesmo que não lhe desmerecerá o porte quando desembarcar no Rio uns meses mais tarde, depois de longos dias no mar.
Espera por Viriato e Helena que descem a calçada. Ela toc toc, que as meias novas lhe escorregam nos socos, braço firme a segurar a cesta da merenda e ele com os mistérios escondidos em palha verga. 
Já se ouvem os morteiros e eles vão listos, pela Rua Barão de Maracaná, pois querem chegar a tempo de ver sair o pálio. 
Mais à frente, aquele corpo esguio curva-se, meio escondio por um farrapo preto e dispara memórias numa caixa de luz. São os Almeida, que ali estão. Os garotos posam assustados e nunca saberão que os seus  rostos tisnados pelo sol e aquela pontinha de ranho a chegar à boca farão as delícias das senhoras que param no Bazar Foto-Central, no Porto, para ver os retratos.
- Agora nós - atira Manuel, enquanto a Helena esconde o cesto à foto.

Podia ter sido assim, num dia, nos princípios de Setembro. A caminho da Romaria da Nossa Senhora dos Remédios.


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